06 nov, 2024 • Hugo Monteiro
“É mais difícil para uma pessoa no Barreiro arrendar um T1 do que em Viena, na Áustria”. A frase é do investigador Miguel Salema, da Católica Lisbon School of Business & Economics, que comparou a percentagem de salário que os trabalhadores de várias cidades europeias terão de gastar para alugar uma casa com um quarto nesses mesmos locais.
Em entrevista ao podcast Radar Europa, da Renascença em parceria com a Euranet Plus, revela que, por exemplo, “um parisiense com salário médio, gastará 31% do seu vencimento se quiser viver num T1”, enquanto que, na Moita, um trabalhador local com um salário mediano para essa cidade “gasta 42% do seu vencimento", para conseguir o mesmo objetivo.
Miguel Salema acrescenta que, “em Berlim, essa percentagem será cerca de 29%". Mas, "na Figueira da Foz são 32% e em Valongo 37%”. Ou seja, “para uma pessoa que vive em Berlim, dado os salários de Berlim, é muito mais fácil viver sozinho”.
Em Portugal “é muito mais difícil" fazer o mesmo, o que tem “vários impactos”, por exemplo, na idade a que os jovens saem de casa dos pais ou no número de nascimentos.
Para traçar o retrato da habitação em Portugal, o investigador da Católica cruzou dados do Instituto Nacional de Estatística sobre as rendas medianas de cada concelho, com dados da Autoridade Tributária sobre os salários medianos que são praticados nesses mesmos municípios. A partir daí chegou a um rácio entre rendas e rendimentos.
Para um português, com um salário mediano, arrendar um T1 “terá de gastar cerca de 35% do seu rendimento”. No entanto, “em Lisboa, Cascais e Amadora, por exemplo, já está acima de 50%. Ou seja, mesmo tendo em conta que em Lisboa os rendimentos são os mais altos do país, um lisboeta com um rendimento mediano da cidade, gastará mais de 50% desse rendimento para arrendar” uma casa com um quarto, revela o investigador.
O acesso à habitação é um dos temas críticos na União Europeia. De tal forma que, pela primeira vez, foi designado um comissário específico para gerir o dossier.
Será o responsável por apresentar o primeiro plano europeu de habitação a preços acessíveis. Um plano que, para a investigadora Ana Cordeiro Santos, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, deveria prever medidas como retirar “o investimento público em habitação” do “cálculo do défice e da despesa pública”.
O podcast Radar Europa é uma parceria Renascença com a Euranet Plus, a rede europeia de rádios.