10 jan, 2025 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo
Elon Musk, o dono da rede X, fez uma intervenção direta nas eleições do próximo mês na Alemanha, manifestando o seu apoio à AfD. Olaf Scholz, o ainda Chanceler alemão, viu-se na obrigação de vir a público explicar ao apoiante e amigo de Trump que quem decide eleições na Alemanha não são os donos das redes sociais. Musk não desarmou e desferiu um ataque descabelado ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e ao seu governo, acusando-o de, enquanto chefe do Ministério Público britânico, ter encoberto crimes dos “gangues de paquistaneses” em casos de violações ocorridas na Grã-Bretanha. Uma coisa nunca vista por parte de um empresário, muito menos, um empresário dos Media.
Fernanda Câncio (DN, 7) manifesta uma preocupação central: a reprodução de informação falsa e a manipulação vergonhosa a que estamos sujeitos neste nosso tempo. “As pessoas estão disponíveis para, sem qualquer prova e na esteira de Musk, acusar o PM britânico de ter andado a encobrir crimes enquanto desempenhava as funções de Procurador-Geral da Coroa.
Sintomaticamente, o órgão nacional do Chega, no estilo ignominioso que caracteriza a agremiação, titulou: “Primeiro-ministro britânico tentou esconder que milhares de violações eram cometidas por imigrantes islâmicos". E zás, há logo quem partilhe a publicação como "prova". Para não ficar atrás do seu concorrente, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou o fim do fact-checking (verificação dos factos) na sua empresa, nos Estados Unidos. O que era feito por agências profissionais passará a ser regulado por um sistema de “notas da comunidade”, o que quer que isso queira dizer, como é usado por Elon Musk, na Rede X.
“Não nos encostem à parede” é a palavra de ordem para a manifestação que sai da Alameda D. Afonso Henriques até ao Martim Moniz (11), em protesto contra a atuação da polícia na Rua do Benformoso, que os organizadores consideram discriminatória. A discussão desta quarta-feira (8) no Parlamento sobre Segurança não foi um exercício edificante com o Dr. Ventura a proferir declarações alimentadas pela ideia “encostem-nos à parede”, impróprias, na forma, no conteúdo e absolutamente inadequadas ao local, a sede de um órgão de soberania. É exatamente o mesmo protagonista que propôs a Marcelo Rebelo de Sousa a realização de um Conselho de Estado sobre Segurança, como se o órgão consultivo do Presidente fosse um fórum para os conselheiros discutirem o que cada um deles entende. Neste episódio, o que é mais surpreendente é Marcelo ter mandado recolher a opinião dos Srs. Conselheiros sobre o tema. Aparentemente, alguns deles nem responderam.
A proposta do novo contrato de concessão para a Rádio e Televisão de Portugal está sob consulta pública. O documento consagra o recuo do Governo em relação ao fim da publicidade na televisão do Estado e vai longe demais nas obrigações de produção de conteúdos. Uma coisa são linhas gerais, orientadoras, do que o Estado pretende para o Serviço Público de Media, outra bem diferente é definir, previamente, o género e a quantidade dos conteúdos a transmitir, o que configura uma clara violação da liberdade de programação. Pelo contrário, a referência não expressa aos diferentes canais, deixará aos órgãos da empresa espaço para decidir sobre a forma de organização da oferta, fator decisivo para a definição estratégica da RTP num ambiente digital cada vez mais competitivo.
No ano que terminou, sabemos que os canais de informação recuaram ligeiramente; que o streaming reforçou o consumo. As generalistas, apesar de terem recuperado alguma coisa, não conseguem alterar o paradigma e apresentar conteúdos âncora que produzam inovação na oferta.
10 anos sobre o atentado à redação do Charlie Hebdo. O tema fez capa do Libération (6.Jan). Luís Afonso, no Bartoon, do Público sintetiza, com o talento que se lhe reconhece, a transformação deste nosso tempo. Há uma década todos dissemos, solidários: “Je suis Charlie”. Hoje muitos de nós dizemos: “J’ai été Charlie”. Faz diferença.
No suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, sendo o transporte de gado regulado, o das pessoas parece estar fora de controlo. Há utentes que não conseguem entrar nos comboios da Fertagus em 3 estações seguidas no percurso até Setúbal. Os animais irracionais têm mais direitos do que os seres humanos? David Pontes escreve no Público que “a luta da Gronelândia também é nossa”. Nossa de quem?