08 nov, 2024 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo
Na eleição presidencial norte-americana de terça-feira (5), as empresas de sondagens falharam em toda a linha e os Media tradicionais revelaram-se incapazes de ler a realidade do país. Quer umas quer outros apostavam numa corrida ombro a ombro, só decidida sobre a meta, que Kamala acabaria por vencer.
Ainda na noite de sexta-feira (1) Alan Lichtman, historiador, garantia na CNN Internacional que Harris ganharia, baseado na grelha de 13 Key points de avaliação de candidatos que o investigador desenvolveu desde 1981 e que tem aplicado, sem enganos, desde essa época. Nada disto aconteceu. Trump ganhou a Casa Branca, arrebatou o Senado, está a caminho de vencer a Câmara dos Representantes, que acrescenta à maioria confortável que já detém no Supremo.
Uma tempestade que arrasou o partido democrata. A 1ª página desta 4ªfeira (6) do The New York Times ilustra de forma eloquente o resultado da eleição: “Trump storms back”. A última edição do Charlie Hebdo desenha na capa, Kamala a correr à frente de um carro à desfilada, conduzido por Trump. O título que ilustra o desenho “Vas-y Kamala…l’amérique est derrière toi” é mais do que irónico, foi certeiro. Kamala foi atropelada pela América.
Talvez mais do que nenhuma outra eleição recente, esta disputa produziu uma nova realidade. Os Media tradicionais não conseguem suster o poder das redes sociais. Trump insultou os jornalistas que cobriam os seus comícios, considerou-os o “inimigo sentado na última fila”; chamou influencers para o palco, usou as redes sociais (o X, claro, de Elon Musk), desprezando os jornais e as grandes cadeias de televisão. No fundo, seguiu apenas o que explicava um estudo da Gallup: apenas pouco mais de 30% dos norte-americanos considera essencial o jornalismo produzido pelos meios tradicionais. A principal fonte de “informação” são as redes sociais. Estamos perante um novo paradigma? Ou apenas confrontados com a incapacidade dos Media tradicionais perceberam as novas realidades?
A tragédia de Valência é uma sucessão de erros, para dizer o mínimo, desde o início: a informação sobre a realidade meteorológica foi iludida; o atraso na reação das autoridades locais e nacionais é inexplicável; a ausência absoluta de comunicação das autoridades, imperdoável; o conflito de poderes entre a comunidade valenciana e Madrid, deixando as populações desamparadas, irresponsável. Não foi só a comunicação com a população que falhou. Falhou tudo!
Em todas as imagens dos trabalhos de limpeza e procura de desaparecidos, durante 5 dias, vê-se a população, num espírito de entreajuda notável. Não se via qualquer esforço público organizado, proteção civil ou polícia. As FA chegaram ao fim de uma semana. Até os Media, inicialmente, não se aperceberam da dimensão real da tragédia. Acordaram com a vaia e os gritos de “assassino” com que o Rei e o chefe do executivo foram recebidos. Sánchez foi corrido à paulada. Todos os jornais europeus puxaram o tema à primeira página. O Público faz manchete (segunda, 4). O CM também, com a particularidade de mostrar uma foto que retrata a ira popular contra o primeiro-ministro.
Ricardo Leão, o atual presidente da Câmara de Loures, demitiu-se da federação socialista da área de Lisboa (FAUL), mas quer ser candidato. A polémica em torno do autarca estalou com a aprovação de uma proposta do Chega que prevê o despejo de casas camarárias de famílias que tenham pessoas envolvidas em distúrbios. Leão entende que a medida deve ser aplicada “sem dó, nem piedade”. Pedro Nuno Santos desvalorizou as declarações e ficou debaixo de fogo dos seus próprios correligionários, incluindo António Costa. Como conclui Ana Sá Lopes, no Público (4.nov), “para travar a extrema-direita, é usar os seus argumentos e o PS tem a vitória garantida”.
A Trust in News, que detém a Visão, a Caras e o JL, entre outras publicações, viu o PER rejeitado e deverá declarar-se insolvente. Aparentemente uma má notícia para o sector dos Media. Aparentemente porque sobrevive sempre a esperança que alguém compre os títulos detidos pela TinN.
Pedro Norton, no Público, na sequência de um texto de João Miguel Tavares, reflete sobre a luta pela credibilidade do jornalismo. Tema central para a vida saudável das democracias, documentado em sucessivos estudos da Gallup, suscitado também pela posição de alguns proprietários de jornais nos Estados Unidos.
As eleições presidenciais em Moçambique não mereceram atenção particular, designadamente na imprensa escrita. Só agora com os conflitos violentos que se registaram e com o país à beira de mais uma guerra civil é que a comunicação portuguesa começa a despertar para o tema.
Leonor Beleza, agora vice-presidente do PSD, renunciou ao cargo que mantinha no CGI, o órgão que tutela a Administração da RTP.
Na abertura do Telejornal de segunda-feira (4), as fotos de Kamala Harris e Donald Trump foram identificadas como Milk Chocolate e Milk, respectivamente, sem que nada explicasse a “criatividade”. Como se sabe, o tal Milk acabou por ganhar a Casa Branca.
No suplemento ao programa, nos grandes enigmas e outras histórias, vários comentadores portugueses identificaram as debilidades da campanha de Kamala Harris que determinaram a derrota democrata. Porque é que não o fizeram antes? No caso do INEM, porque é que não se decide por uma requisição civil? O passaporte português de Álvaro Sobrinho, caducado há 40 anos, foi-lhe retirado em agosto deste ano. Quem é que atualizou a Wikkipedia do banqueiro esta 5ªfeira (7)? Qual é a pressa do United levar Amorim para Manchester? Percebeu-se, em Alvalade, qual era a pressa.