10 jan, 2017
Será que Rui Tavares tem razão quando no seu artigo de finais de Dezembro passado prevê que 2017 vai ser só homens? Na sua reflexão, destaca a pouca diversidade dos fazedores da opinião pública e dos promotores da decisão (a ausência de mulheres, jovens ou pessoas pertencentes a grupos minoritários), como a sociedade assim fica mais pobre e menos competente, e ainda algumas ideias do que que se poderá fazer para a indispensável correcção.
No primeiro conselho de ministros de 2017, foi aprovada uma proposta de lei que impõe quotas, em função do sexo, para o preenchimento dos lugares de direcção das empresas do sector público empresarial e das empresas cotadas em bolsa.
Uma medida importante, sem dúvida. Um primeiro passo. Mas, por que não também, para a restante administração pública, central, regional e local?
As quotas apresentam-se como um instrumento importante para a correcção de profundas e persistentes desvantagens numa sociedade que teimosamente recusa a igualdade e a diversidade como factores estruturantes de uma organização e de um funcionamento equilibrado e justo, democrático e sustentável. Trata-se de um instrumento que, ao pretender a correcção, visa sobretudo a aquisição permanente de modelos de acção. Deverá ser transitório, na medida em que prossegue um fim, além de correctivo, pedagógico. Introduz imperativamente uma medida equilibradora para que se interiorize o que já devia ser padrão mecânico nos comportamentos diários.
As práticas correntes, rotinadas, tomam como bom o praticado, tornam-nos insensíveis ao errado, incapazes de detectar os desvios.
Mas a prática corrente está errada, e as decisões são frágeis porque só assumidas por alguns de nós. É pois necessário e urgente que a decisão seja o reflexo da nossa diversidade, e só o poderá ser se quem a pensa e define sejam aqueles que a representam.
Neste início de 2017 faço votos militantes de que a reflexão de Rui Tavares não se cumpra. Todos temos um papel: pela denúncia que recusa a desigualdade, pela prática que força a introdução constante da diversidade, pela definição e concretização dos mecanismos indispensáveis à sua concretização.