03 mai, 2016
Mais de oitocentos milhões de pessoas são vítimas de fome crónica ou de subnutrição enquanto cerca de 30% da população mundial padece de obesidade.
No Mali, por cada cem mil nados vivos morrem cerca de 1100 mulheres, enquanto na Suécia, pelo mesmo número de nados vivos, morrem 4.
No Afeganistão, por mil nados vivos morrem 117 bebés, enquanto em Portugal, pelo mesmo número de nados vivos, morrem 4.
Na Serra Leoa, a esperança média de vida à nascença é de 38 anos, enquanto no Japão é de 85,9.
Já 1% da população mundial possui riqueza igual à que é partilhada pelos restantes 99%.
Estes são alguns exemplos dos incompreensíveis contrastes, das insuportáveis desigualdades, das tremendas injustiças que se vivem no mundo contemporâneo. A lista é interminável: estende-se a todos os sectores, envolve toda a humanidade.
Nunca como hoje se atingiram níveis tão elevados de bem-estar e de sofisticação, nunca como hoje se produziram tantos alimentos. Atingiram-se hoje níveis sem precedentes de desenvolvimento científico e tecnológico.
Contudo, por ganância, dominação, indiferença, construímos e vivemos num mundo profundamente desumano que de forma absurda e “desinteligente” atinge níveis sem precedentes de crueldade e de violência na desigualdade gerada, nos contrastes produzidos.
Mas estes ou outros exemplos à escala global, que pela sua dimensão parecem remotos, dificilmente credíveis, quase que ficcionados, insusceptíveis de alteração, são próximos e reais, são a expressão e a consequência da nossa escala local, de decisões e de omissões. E são, por isso, possíveis de serem alterados, controlados.
É preciso que se queira, é que preciso que se actue.
Tal como não se trata de uma ficção, a urgência da introdução de um novo modelo para que possamos ter um futuro sustentável também não pode ser mais real. Ao alcance de cada um está a possibilidade da recusa do que não é tolerável, a possibilidade do trabalho activo e militante para um outro futuro mais justo e mais humano.