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José Luís Ramos Pinheiro
Opinião de José Luís Ramos Pinheiro
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​O vice-almirante não merecia

27 dez, 2021 • Opinião de José Luís Ramos Pinheiro


Parece uma operação militar clandestina, à margem do escrutínio. Sem pompa (o que é bom), mas sem a circunstância (o que é mau) que em democracia deve presidir a nomeações de grande responsabilidade. E essa circunstância chama-se transparência.

Gouveia Melo é o novo chefe do Estado-Maior da Armada. A cerimónia, encaixada entre Natal e ano novo, durou noventa segundos. O até agora responsável da Marinha, Almirante Mendes Calado, não compareceu.

Há umas semanas, quando surgiu a notícia desta mesma substituição na chefia da Marinha, o Presidente não gostou, irritou-se com o ministro da Defesa. E o primeiro-ministro meteu-se pelo meio.

Resultado, a notícia não se confirmou. A demissão de Mendes Calado foi congelada. E a promoção de Gouveia e Melo também.

Mas a paz durou pouco. Agora, entre Natal e Ano Novo, tudo se confirma. Demite-se um, nomeia-se outro. O que esteve para ser demitido e não foi, acaba de ser afastado. E o que esteve para ser promovido e não foi, acaba de ser nomeado.

Parece uma operação militar clandestina, à margem do escrutínio. Sem pompa (o que é bom), mas sem a circunstância (o que é mau) que em democracia deve presidir a nomeações de grande responsabilidade. E essa circunstância chama-se transparência.

Não sei se a culpa é do Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, se é do primeiro-ministro e do ministro da Defesa, ou do próprio (agora) Almirante Gouveia e Melo que aceitou ser nomeado no meio de uma enorme trapalhada. No limite, a responsabilidade é de todos eles.

Em todo o caso, o vice-almirante Gouveia e Melo, que já prestou altos serviços ao país, não merecia ser promovido a almirante, através de uma nomeação opaca e sinuosa.

Desejo o melhor para o novo chefe de Estado-Maior da Marinha, mas tenho já saudades do vice-almirante que liderou a “task force” da vacinação e que na altura se definia como militar e não como político.

As Forças Armadas - e a Marinha, em particular - não mereciam tudo isto. Mas o país merece saber o que se passou e por que se passou deste modo.

Comentários
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  • Cidadao
    30 dez, 2021 Lisboa 10:46
    Ele que ponha ordem na casa, e ordem é o que tem faltado. Não falando na exiguidade dos meios, metade das unidades estão paradas à espera de manutenção, o arsenal do alfeite precisa de investimento para aumentar as capacidades de manutenção/reparação, falta modernização MLU das fragatas Meko, faltam patrulhas oceânicos, faltam patrulhas rápidos, faltam reabastecedores de esquadra, e para o plano que ele traçou nos "cadernos Navais" faltam outras unidades como um 3º Submarino e unidades de apoio logístico. Tem de acabar com essas ideias de mini-marinhas como lanchas de patrulha para a GNR - o Mar é da Marinha, a GNR é em Terra - e tem uma estrutura para por de pé com pouquíssimos meios, como de costume. Deixem-no em paz, que trabalho não lhe vai faltar.
  • César Augusto Saraiva
    27 dez, 2021 Maia 19:18
    Realmente; Não havia necessidade!