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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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Uma boa notícia (logo desvalorizada)

02 jun, 2023 • Opinião de João Ferreira do Amaral


As nossas exportações representam pela primeira vez mais de 50% do PIB.

Um facto importante para a nossa economia foi ultimamente objecto de compreensível interesse e congratulação. Refiro-me à notícia de que as nossas exportações representam pela primeira vez mais de 50% do PIB.

Houve logo, à boa maneira portuguesa, vozes que tentaram desvalorizar este resultado com o estafado argumento de que aquele valor só foi obtido porque o turismo cresceu muito. Não percebo o argumento. O turismo estrangeiro e o transporte aéreo que lhe está em grande parte associado são sectores produtivos como os outros e as respectivas exportações são tão boas como as exportações de mercadorias.

Mas mesmo que por qualquer razão obscura o turismo estrangeiro e os outros produtores de serviços transaccionáveis fossem sectores de segunda, continuaríamos a ter um bom resultado no nosso comércio externo. Com efeito, em 2014 (ano escolhido por ser o da saída da crise de 2008-2013) as nossas exportações de mercadorias representaram 27,8% do PIB. Em 2022 terão representado 32,7%, um aumento muito significativo.

Trata-se, pois, de uma boa notícia e não existe a mínima razão para a desvalorizar. Mas é importante saber o que significa em termos de equilíbrio macroeconómico.

Quando, como é o caso, se verifica um grande aumento do peso das exportações totais no PIB duas situações diferentes poderão ocorrer: ou existe, simultaneamente, um aumento grande do peso das importações totais no PIB e esse aumento possibilitará um aumento significativo da procura interna, ou não existe um aumento significativo do peso das importações e a procura interna não crescerá.

No primeiro caso, teremos um aumento da procura interna com um menor equilíbrio externo. No segundo caso, teremos mais equilíbrio externo, mas menos peso da procura interna. Tal como os números para 2022 se apresentam, temos um aumento do peso das importações no PIB, pelo que estamos no primeiro caso, mas não muito longe do segundo.

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