09 set, 2022
Não é fácil qualificar numa ou duas palavras o pacote de medidas de apoio às famílias agora aprovado pelo Governo.
Em parte, o Governo é responsável, porque deu a mesma importância na sua comunicação a medidas de impacte muto diferente. Mas também a sensação que se poderia ir mais além esbarra com a dificuldade em avaliar, com os dados que estão disponíveis para o público, a real margem de manobra orçamental.
Pesem embora estas dificuldades arrisco a opinião que o Governo podia ter ido mais além no que respeita ao IVA da electricidade e que não devia jogar com o aumento das pensões para contornar a Lei, mas que, do lado positivo, o impacte do pacote está longe de ser insignificante e tem aspectos muito positivos, como seja a redução do aumento das rendas de casa.
Encarando de um ponto de vista mais geral, o pacote e as críticas que lhe foram feitas ilustram as dificuldades que o nosso Governo, como aliás todos os governos da União Europeia enfrentam e que resultam de terem decidido reagir à inflação bloqueando ou limitando muito o ajustamento de rendimentos salariais e pensões ao mesmo tempo que tentam proteger _o que nunca conseguem verdadeiramente devido a este não ajustamento – os rendimentos mais baixos.
Em minha opinião, não é assim que a política económica deve reagir à inflação. Deve antes deixar os rendimentos ajustarem-se mesmo que isso signifique no imediato algum aumento adicional dos preços e simultaneamente deve combater com a política macroeconómica (política monetária e orçamental) a inflação arrefecendo - mas sem excesso de zelo - o crescimento da procura interna. Não esquecendo evidentemente a necessidade de combater directamente os casos em que o crescimento de preços é especulativo.
A inflação, desde que contida em limites que impeçam o desencadear de um crescimento de preços descontrolado, não é um drama. O que é um drama é que sobre os rendimentos do trabalho e as pensões recaiam todos os custos do combate à inflação.