18 mar, 2022
Não há dúvida que, passados mais de dois anos desde o início da pandemia, aquilo que a economia mundial menos necessitava era de uma crise como a que está a resultar da inqualificável agressão da Rússia à Ucrânia.
Mesmo que não houvesse uma redução do comércio de combustíveis e de alguns produtos alimentares, seria normal que os mercados desses bens reagissem nervosamente a uma situação de crise político-militar grave. Por maioria de razão, quando, como é o caso, existe uma redução significativa da exportação daqueles produtos.
Não creio que no imediato haja um impacto muito negativo sobre a economia mundial. No entanto, esta sofrerá certamente uma desaceleração. E mais grave, vão ser os países e os estratos sociais mais pobres os que irão ser mais duramente afectados, o que faz recear um aumento da subnutrição a nível mundial e também um recrudescimento de conflitos sociais graves em alguns desses países.
No entanto, o maior risco da situação actual decorre da possibilidade das operações de guerra se prolongarem e de, em consequência, se agravarem ainda mais as relações da Rússia com o Ocidente. Se deste potencial agravamento resultar, por exemplo, um corte de fornecimento de gás a alguns países da União Europeia, teremos certamente uma recessão em várias das economias da União, o que, por sua vez poderá ter um impacte negativo sobre a economia chinesa.
O risco é grande e por isso devemos preparar-nos para este possível cenário de agravamento. Se ele não se vier a verificar, tanto melhor, mas o próximo Orçamento de Estado para 2022 terá de ser muito diferente da proposta que foi chumbada. O Estado tem de criar ou melhorar os mecanismos de intervenção na economia para estar pronto a minimizar as consequências negativas que poderão ocorrer e isso implica ter “almofadas” orçamentais.