03 fev, 2022
Sou dos que acreditam que Portugal tem, neste momento, condições para sair da quase estagnação dos últimos 20 anos e entrar num caminho de crescimento económico, rápido e muito menos desigual.
Dessas condições, algumas são mais evidentes que outras. A mais evidente de todas é obviamente a de dispormos de muitos milhões de euros não só os do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas também os decorrentes dos “tradicionais” fundos estruturais. E não é só o dispormos de muito dinheiro: o PRR, ao contrário dos fundos estruturais, permite maior margem de manobra na aplicação dos fundos, o que é importante, porque nem sempre as prioridades impostas pelo financiamento europeu tradicional são as mais importantes do ponto de vista nacional.
A esta disponibilidade acresce que existe a nível governamental uma estratégia definida para a aplicação dos fundos que a meu ver corresponde adequadamente aos desafios (e são muitos) que temos que enfrentar. O que não quer dizer que essa estratégia esteja suficientemente concretizada em todos os domínios: há ainda muito a fazer nesta matéria.
Finalmente, a maioria absoluta, embora não seja condição suficiente de estabilidade política é sem dúvida uma condição necessária e esta está agora preenchida.
Uma das condições positivas que não é tão evidente porque nos habituámos a uma ladainha negativa de muitas décadas é a grande melhoria da qualificação da maioria da nossa população activa que é o resultado de muitos anos de um esforço continuado na Educação. Esforço que tem sido sempre muito polémico e cavalo de batalha entre governos e oposições mas cujos resultados olhando para um prazo longo são claramente visíveis. Claro que não estamos ainda num nível satisfatório relativamente aos nossos parceiros europeus: mas temos recuperado o atraso e podemos perfeitamente continuar a recuperá-lo no futuro.
Temos, pois razões para estarmos optimistas. Mas não podemos cair na armadilha do facilitismo. Em primeiro lugar porque a situação mundial, tanto do ponto de vista sanitário como político é ainda de uma enorme incerteza e pode piorar. Em segundo lugar, internamente, não podemos esquecer que uma maioria absoluta traz sempre consigo maior risco de compadrio e autismo político, o que exige uma oposição atenta e interveniente. Ou seja, o futuro próximo vai ser um grande teste tanto para o Governo como para a oposição.