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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​A retoma e a zona euro

11 nov, 2021 • Opinião de João Ferreira do Amaral


É urgente que os países do euro acordem no que fazer olhando para o leque de opções possíveis, pondo em causa mesmo o que se tem por certezas adquiridas.

À medida que a Europa vai saindo da crise (e esperemos que o recrudescimento da pandemia não vá interromper a retoma) vai-se tornando evidente que alguma coisa - e muito profunda - terá de mudar na União Europeia e em particular na zona euro.

Penso ser conhecida a minha posição contrária em relação ao projecto da moeda única, mas não é isso que está em causa.

O que está em causa pode ser compreendido quer por quem tenha uma posição crítica quer por quem tenha uma posição favorável. Resume-se facilmente na seguinte frase: as instituições da zona euro estão hoje completamente desfasadas da realidade que vamos enfrentando à medida que decorre o processo de retoma da economia europeia.

Efectivamente, enquanto a dívida pública em percentagem do PIB orçava pelos 65% no início da moeda única, está agora perto dos 100%. Três das quatro maiores economias da zona euro – Itália, Espanha e França – que, conjuntamente com as economias mais pequenas muito endividadas representam 50 % do PIB da zona, estão hoje com dividas claramente superiores a 100% do PIB, em particular a Itália.

Este nível de endividamento representa só por si um obstáculo forte ao crescimento económico futuro e portanto muito maior probabilidade do crescimento da zona euro vir a ser inferior a 1% ao ano, que foi o crescimento da zona desde a fundação até à pandemia, apontando portanto para uma estagnação de décadas ou até para um declínio.

Acresce que o chamado Tratado Orçamental que estipula que os países com mais de 60% de dívida reduzam o valor do peso dessa dívida para 60% no prazo de vinte anos é hoje quase impossível de cumprir para metade da produção da zona euro.

É urgente que os países do euro acordem no que fazer olhando para o leque de opções possíveis, pondo em causa mesmo o que se tem por certezas adquiridas.

Mas tal acordo só poderá começar a ser debatido quando houver governo na Alemanha...

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