26 set, 2024 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos
O comentador da Renascença João Duque considera que só é possível aumentar o salário mínimo nacional até aos 1.020 euros daqui a quatro anos, “se as empresas evoluírem em termos de produtividade, para não alterar a estrutura atual da repartição entre aquilo que se remunera o capital e o trabalho”.
“Mas pode ser que se aumente a produtividade e, portanto, até podíamos aumentar o salário mínimo nacional mais do que isto, sem tocar nessa estrutura, sem melindrar, digamos, o capital”, assinala Duque.
O economista ressalva ainda que “depende um bocadinho da forma como trabalhamos para isso, e isso depende não só do Estado, mas também da forma como as empresas investem e dirigem o seu investimento, se é para produtividade ou se é para outra coisa qualquer”.
Questionado sobre se as empresas estão a fazer isso, João Duque diz que “não estão a dirigir muito investimento, pelo menos, com efeitos imediatos para o crescimento de áreas de valor acrescentado, muito elevado”.
“De uma forma muito simplista, temos visto muito investimento na área do imobiliário, até na construção, e também muito vocacionado para o turismo”, diz o comenatador.
Mas, na visão do professor catedrático, “essa área não é assim, muito geradora de valor acrescentado por posto de trabalho”, sublinhando que “temos aqui um défice de criação de investimento muito direcionado para essa área”.
“O PRR podia dar uma ajuda, mas também não foi muito orientado para exigir às empresas para se focarem exclusivamente em produtividade. Portanto, não temos feito o trajeto que deveria ter sido feito”, observa.
João Duque nota que em termos de salário médio, tem havido “um aumento forte de remunerações da chamada competência”.
“Nós temos estado a assistir em Portugal a uma escassez de talento para áreas em que, se as empresas não pagarem, as pessoas vão-se mesmo embora, saltam de áreas onde ganham menos para áreas onde ganham mais e, portanto, isso é normal que aconteça numa economia de mercado”,
Segundo o economista, uma parte da população que está até a ser beneficiada com isto é “quem tem qualificações, quem sabe fazer coisas que têm valor”, enquanto “os restantes setores não estão porque, por exemplo, “se o turismo não consegue pagar muito, não temos grande possibilidade de fazer esse aumento”.
“Espero que este aumento de salário mínimo nacional não venha a aumentar apenas o contingente de pessoas que vão ficar abrangidas por este salário mínimo nacional, que é o que tem acontecido nos últimos anos”, remata.