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Tanques Leopard foram caros e estão inoperacionais. "Generais queriam brincar às guerras"

Henrique Raposo

Tanques Leopard foram caros e estão inoperacionais. "Generais queriam brincar às guerras"

27 jan, 2023 • Sérgio Costa , Inês Braga Sampaio


Henrique Raposo equipara o caso dos carros de combate de última geração ao homem em crise de meia-idade que compra um Ferrari. Também critica a "incapacidade crónica" de Portugal de "gerir dinheiros públicos de maneira racional".

Henrique Raposo considera incompreensível que Portugal, um país sem inimigos naturais "num raio de dez mil quilómetros", tenha 37 tanques Leopard 2, a maioria inoperacional, estacionados na garagem.

"Os generais queriam brincar às guerras em Santa Margarida e nenhum político teve coragem de lhes dizer que nós não precisamos de 40 carros de combate pesados", critica, no espaço de comentário desta sexta-feira, no programa As Três da Manhã, da Renascença.

Henrique Raposo equipara a compra dos Leopard 2 de última geração, que segundo os números de 2007 têm um custo unitário superior a cinco milhões de dólares - "são vários palcos" da Jornada Mundial da Juventude, ironiza -, à parábola do homem "que compra um Ferrari ou um barco quando chega à crise de meia-idade e esquece-se que aquilo é muito caro manter".

"Depois, cai no ridículo de aquilo ficar parado na marina ou na garagem. O ponto é mesmo esse: porque é que nós comprámos 40 carros de combate de topo pesadíssimos, caríssimos? A Espanha é uma ditadura militar que nos vai invadir? Não é de todo. Não temos um inimigo natural num raio de dez mil quilómetros", assinala.

Para Henrique Raposo, este caso ilustra a "incapacidade crónica" de Portugal de "gerir dinheiros públicos de maneira racional".

"Parece que as pessoas quando chegam às lideranças do Estado perdem noção de que aquele dinheiro é nosso e não é para gastar à toa", observa.

O comentador lembra que Portugal tem a maior área económica exclusiva no mundo - não em terra, mas sim no mar: "E como é que está a nossa Marinha? Também está nas docas, depauperada, sem peças."

"Temos uma Força Aéra com F-16 dos quais não precisamos, temos Leopard no Exército de que não precisamos. E somos incapazes de ter um político que pense assim: 'Não, os generais de Santa Margarida não vão brincar às guerras com tanques. Nós temos pouco dinheiro, temos é de investir na Marinha.' Nós não somos capazes de defender o nosso mar, não temos navios-ciência capazes de levar a que Portugal seja capaz de liderar as descobertas necessárias que há para fazer no mar, do ponto de vista económico, cultural e científico", critica.

No final de contas, o ministro dos Negócios Estrangeiros comunicou o envio de quatro veículos Leopard 2 e, logo a seguir, teve de voltar atrás com a palavra, porque os carros, afinal, não cumprem os requisitos da NATO para serem enviados para um cenário de combate. Uma história em que Portugal "fica mal".

"Nós estamos mal desde o início nesta questão da NATO. Somos um parente pobre que é incapaz de auxiliar os nossos aliados. E não é auxiliar a Ucrânia, é auxiliar os outros aliados que estão a ajudar a sério a Ucrânia", atira Henrique Raposo.

Comentários
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  • Gustavo
    29 jan, 2023 Sertã 19:30
    Este senhor deve mesmo perceber de guerra como o cara...ho. Podemos passar 100 anos sem guerra mas não podemos passar 1 dia sem forças armadas. No dia em que dependermos de terceiro para garantir a nossa soberania deixamos de ser independentes. "Não precisamos de F16" deve ser mesmo burro
  • Manuel Ferraz
    29 jan, 2023 Vila Nova de Gaia 14:05
    Correto não temos inimigos mas se não estivermos preparados para que no caso de aparecerem estarmos lá então fechem-se os quarteis. Têm carros de combate inoperacionais em garagens. Procuro eu e não se reparam.? E quando os outros avariarem vão para as garagens também? Ou seja compram-se avariam e não se reparam. Viva a tropa.
  • Eu
    28 jan, 2023 Digo 19:10
    Podemos não ter inimigos declarados mas não estamos propriamente cercados por "amigos". A competição por Espaço e recursos, existirá sempre e basta alguém querer o que temos e não lhe queremos dar, para um "amigo" se transformar num "adversário" e mais tarde num "inimigo". E acreditar no contrário é crer em Anjos. Se me disserem que adquirir meios e depois por sucessivos cortes, deixá-los estragar ou mantê-los em hangares/armazéns/amarrados aos cais é um desperdício, concordo. Falar num desarmamento total ou numa estratégia de "polícia basta", isso é de quem acredita no Pai Natal.
  • Tiago
    28 jan, 2023 Lisboa 14:40
    É preciso ser muito iletrado relativamente à História e ao presente, ignorante sobre as questões operacionais, profundamente mal preparado nas questões técnico-financeiras e deliberadamente parcial na fomentação de lobbies, para tornar pública tamanha aberração de comunicado, caro Henrique Raposo. Não há uma única linha dotada de raciocínio lógico ou próxima sequer da realidade. Nenhum Leopard custou metade dos 5 milhões que refere. Nenhuma vigilância do mar/oceano se faz sem Força Aérea capaz e eficiente. As Forças Armadas portuguesas são um ator credível e distinto em TODOS os teatros onde se empenha e empenhou, quer em termos de Operações de Paz regulares, quer em situações de ambiente mais intenso. E os Leopard portugueses (com gente portuguesa lá dentro) já deram provas importantes, quer em inspeções nacionais, quer internacionais, daquilo que são capazes. A muito custo e com muita criatividade, é um facto! O problema aqui não são Generais a querer brincar às guerras. É gente nova amarrada a obtusos (como o senhor), com agendas tendenciosas claras, a quem não interessa nada que o melhor carro de combate do mundo, com os melhores operadores humanos do mundo, tenham condições de tirar a luz do “vosso palco”! Os Leopard não são comparáveis com Ferraris, Caro Henrique Raposo, tal como ninguém compara uma fragata sem inimigos a um qualquer barco milionário. Nem os F-16 são jatos privados. Honestidade e Clareza para o povo, recomenda-se! Depois querem e não têm….
  • Cidadao
    27 jan, 2023 Lisboa 11:56
    Embora concorde com alguns argumentos, acho que transformar as Forças Desarmadas em mera GNR anfíbia de guarda-costas como o articulista propõe, é um erro só possível em quem percebe pouco de estratégica: os inimigos aparecem num instante, basta alguém um dia dizer que "pode ser atacado a partir de território português e se Portugal não defende o seu espaço, então defendemo-lo nós", e não é nessa altura que se fabricam à pressão forças armadas capazes de responder a crises.