Emissão Renascença | Ouvir Online
Henrique Raposo n´As Três da Manhã
Segundas e sexta-feiras, às 9h20, n'As Três da Manhã
A+ / A-
Arquivo
Eutanásia. Não pode haver uma lei de leviatã do Estado

Henrique Raposo

Eutanásia. "Não pode haver uma lei de leviatã do Estado"

08 jun, 2022 • Olímpia Mairos


O comentador não tem expetativas sobre o que vai Marcelo Rebelo de Sousa fazer, depois da aprovação a lei, argumentando que “apesar de ser católico, se ele sentir que o vento está do lado da eutanásia, não vai fazer aquilo que pode fazer”.

O comentador d’As Três da Manhã não consegue perceber a insistência na eutanásia, quando existem tantos problemas para resolver no campo da saúde.

“Não consigo perceber essa insistência na eutanásia. Não consigo perceber porque não se fala, porque é que um lar em Portugal é tão caro, porque é que é tão difícil termos velhos. E é disso que se trata”, diz Henrique Raposo.

O comentador entende que “a sociedade que deu, através da medicina mais 20 ou 30 anos às pessoas, não deu o mesmo no campo familiar. A sociedade lifestyle, não tem tempo, não tem espaço para os velhos”.

Concorda com a posição do constitucionalista Paulo Otero que, em declarações à Renascença, considerou que os vários diplomas e, em particular, o do PS, que agrega um conjunto de contributos de outras forças políticas, não está de acordo com a lei fundamental.

“Não se trata de suicídio, o suicídio está no campo da liberdade radical de cada um. Trata-se de trazer um terceiro” para o processo e dizer-lhe: “olha eu quero matar-me, trata tu do assunto”, explica.

O comentador enfatiza que essa terceira pessoa é “um médico que foi treinado para salvar vidas, não para terminá-las”.

“Mais: o médico faz parte de uma classe, uma corporação que, historicamente, esteve à margem do Estado. Ou seja, é por isso que há uma Ordem dos Médicos. Eles são livres e independentes do Estado. Não pode haver uma lei de leviatã do Estado que diga a um médico que é contra isto, que tem que fazer aquilo”, defende.

Destaca ainda um terceiro ponto dos diplomas que vão ser discutidos e votados na Assembleia da República e que se prende com a palavra “fatal”.

“Isto é uma caixa de Pandora que permite a qualquer pessoa que tenha uma dor crónica ou uma condição crónica possa pedir eutanásia. É, aliás, isso tem acontecido na Bélgica e na Holanda”, alerta.

Exemplifica, por isso, com o caso de uma pessoa com autismo. “Os autistas têm uma propensão gigantesca para desenvolver ansiedade e depressão e têm uma facilidade tremenda de chegar ao suicídio muito mais rápida que todos os neurotrípticos. Nós treinamos os autistas para que eles aprendam a viver com essa condição e para serem pessoas “normais”. Apresenta-se depois esta lei que diz não, se calhar tem esta saída muito mais fácil”, destaca.

O diploma vai ser aprovado no Parlamento. E o Presidente da República, que até agora não tem querido falar sobre o tema da eutanásia, volta a ter a palavra.

Henrique Raposo confessa que não tem quaisquer expetativas sobre o que vai Marcelo fazer.

“Não tenho, porque eu acho que Marcelo Rebelo de Sousa já era como intelectual pouco corajoso e, como político, é um Presidente da República pouco corajoso. Apesar de ser católico, se ele sentir que o vento está do lado da eutanásia, ele não vai fazer aquilo que pode fazer. Não acredito no Marcelo Rebelo de Sousa. Nunca vi o Marcelo Rebelo de Sousa corajoso, nunca vi o Marcelo Rebelo de Sousa católico. Se ele aparecer é uma surpresa”, conclui.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.