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Partidos falam da Europa nos debates "com promessas que não podem cumprir"
Ouça aqui o episódio desta semana. Foto: Pedro Pina/RTP

Geração Z

Partidos falam da Europa nos debates "com promessas que não podem cumprir"

29 mai, 2024 • Alexandre Abrantes Neves , João Campelo (sonorização)


Os candidatos são uma "aposta mediática" e só falam da Europa para "tentar ganhar votos". Neste episódio, sentamo-nos à mesa com dois especialistas em comunicação política - que são unânimes em pedir um reforço da presença europeia nas redes sociais.

Vocabulário confuso, eurodeputados longe do quotidiano da sociedade civil e um funcionamento das instituições complexo e muito diferente do nacional. Não raras vezes se ouve que a União Europeia deixa muito a desejar na forma de mostrar o impacto que tem na nossa vida – mas será que não tem mesmo havido esforço para melhorar a comunicação europeia? A presença da Europa nas redes sociais é suficiente? E nestas eleições – os debates e a postura dos partidos ajudam a esclarecer tudo o que se passa em Bruxelas e Estrasburgo?

Neste episódio do Geração Z da Renascença e da EuranetPlus, tentamos rebentar a bolha da comunicação europeia com dois convidados entendidos no tema. André Freire é professor catedrático no ISCTE, doutorado em sociologia política e investiga o comportamento e as atitudes políticas dos eleitores. Rita Saias tem licenciatura e mestrado em ciência política, foi presidente do Conselho Nacional de Juventude e, nos últimos meses, assumiu a pasta da Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto do projeto Os 230, que pretende aproximar os deputados portugueses da sociedade civil.

Apesar de ainda haver muita estrada a trilhar na campanha eleitoral André Freire considera que os partidos começaram logo mal o esclarecimento dos cidadãos sobre a União Europeia – nomeadamente nos debates televisivos, onde os temas europeus só foram trazidos para cima da mesa por razões “eleitoralistas”.

“Eu acho que é uma abordagem eleitoralista. Querem que haja mais dinheiro europeu para a política social, para a política de emprego, para a política de habitação, mas isso pareceu-me um bocadinho excessivo. Aquele exemplo do Chega e de querer pagar pensões com dinheiro europeu - isso era uma completa impossibilidade, ele não pode cumprir. Isto não bate bem com com os poderes e a repartição de competências entre a UE e os Estados”, explica.

Rita Saias alinha-se com André Freire neste tema, mas recorda que a estratégia de utilizar a União Europeia para fins políticos nacionais não é nova. A consultora de políticas para a juventude sublinha que os governos tendem a “nacionalizar” os benefícios e a “externalizar” os pontos negativos – “por exemplo, com a taxas de juro o BCE é que é sempre culpado”.

Ainda quanto aos candidatos nacionais a Bruxelas, André Freire considera que a escolha das listas dá um mau sinal ao eleitorado. O especialista em comunicação política acha que “a renovação das listas e a introdução de jovens tem valor por si mesmo”, mas lamenta “a aposta mediática” que não valoriza a experiência política.

“Vimos isso na AD [Sebastião Bugalho] e no PS [Marta Temido], mas os socialistas até estão em pior situação, porque puseram no topo da lista uma pessoa que a gente nem sabe que ideias tem sobre a Europa. Acho que valorizar a experiência e o know-how é importante. E depois é uma aposta muito mediática – e não sei o que vai acontecer, já que as sondagens sugerem que continua tudo empatado”, critica.

Solução passa por mais redes e mais jovens nas listas

Conselho da União Europeia ou Conselho Europeu, diretivas ou regulamentos, Banco Central Europeu ou Banco Europeu de Investimento. André Freire compreende que os termos europeus são demasiado complexos por vezes, mas explica que o “sistema político europeu é extremamente difícil de mudar”.

O especialista dá o exemplo de Ursula von der Leyen, que rejeitou acordos com a direita radical no Parlamento Europeu, exceto com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

A escolha dos candidatos é uma aposta muito mediática – e não sei o que vai acontecer, já que as sondagens sugerem que continua tudo empatado

“Isto é uma questão aritmética, com a dificuldade de construir coligações alternantes à esquerda e à direita. Claro que isso é um problema e, com certeza, é confuso. Isto são competições de grande complexidade, com muitas dimensões de conflito para fazer maioria, porque num parlamento com 700 e tal deputados”, ilustrou.

Rita Saias considera, por isso, que a estratégia tem de passar por aumentar o número de canais pelos quais se comunicam as políticas europeias – nomeadamente nas redes sociais.

“É preciso dizer que os canais de comunicação que temos [sobre a UE] são muito variados e funcionam mais depressa. Mas é necessário que haja uma aproximação dos modelos de comunicação das instituições – seja a nível europeu, mas também nacional – às redes sociais, para que estejam nos canais mais utilizados por nós, pelos jovens”.

Apesar das manifestações pela causa climática ou pelos direitos de minorias, os dados do Eurobarómetro divulgados a meados de maio indicam que os temas que mais indicam aos jovens são a paz e a segurança da União Europeia, logo seguidas da luta contra as desigualdades económicas e a defesa dos regimes democráticos.

Rita Saias admite que podemos estar “enganados sobre os assuntos que realmente interessam aos jovens” e considera que isso pode levar a algum afastamento entre as gerações mais novas e o partidos. A consultora sublinha, no entanto, que o importante é que os próprios partidos aumentem a representação jovem nas listas de candidatos.

“Acho que é um bocadinho uma pescadinha de rabo na boca. Se os próprios jovens não sentem que fazem parte do processo, se não se conseguem identificar com candidatos que tenham as mesmas preocupações que eles, então os jovens não vão votar nos partidos. E isso vai levar a que os partidos achem que não faz sentido apostar nesse público-alvo”, remata.

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