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Geração Z
Nasceram na era das tecnologias de informação, são mais práticos e mobilizam-se por causas. Até dispensam o carro e a casa, também porque não têm grandes salários para pagá-los, mas arriscam ter o seu próprio negócio. Como podemos ajudá-los? Quais os medos que enfrentam? Que tal começarmos por ouvi-los? "Geração Z" é um podcast quinzenal, publicado à quarta-feira, às 18h, da autoria do jornalista Alexandre Abrantes Neves. Esta é uma parceria Renascença/Euranet Plus.
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Geração Z. "Redes sociais e algoritmos podem levar a decisões erradas"

Geração Z. "Redes sociais e algoritmos podem levar a decisões erradas"

13 jul, 2022 • Beatriz Lopes


Tiago Lapa, professor e investigador do ISCTE, considera que os jovens de hoje não são menos informados - apenas menos rigorosos na procura de informação de qualidade.

Ondas de desinformação online, bolhas criadas pelos algoritmos, um suposto desinteresse em pagar subscrições de jornais. A forma de acesso dos jovens à informação mudou drasticamente nas últimas décadas – e os prejuízos vão muito para lá do mundo fragmentado apresentado pelas "fake news". Que papel têm as redes sociais na autoestima dos jovens? Qual a relação entre os algoritmos e o aumento de problemas psicológicos? Não há forma de os protegermos? E as políticas para controlar a desinformação nas redes sociais? São regulação ou censura?

No Geração Z desta semana, conversamos com Tiago Lapa, professor e investigador do ISCTE, que se tem debruçado sobre os métodos de pesquisa online e a literacia (ou a falta dela) dos novos média, como as redes sociais. O investigador considera que os jovens de hoje não são menos informados - apenas menos rigorosos na procura de informação de qualidade.

"Os jovens atualmente até consomem mais informação do que antes, só que não há uma procura pela informação: há um acesso espontâneo e imediatista através das redes sociais. É essencial perceber qual é a fonte de informação e que, muitas vezes, as mensagens são escritas com um propósito. A informação falsa pode fazer com que, no limite, tomemos decisões erradas – e a vários níveis. Nas questões da nutrição, da saúde, da participação do voto, na forma como olhamos a sociedade e a política... Isto pode ter impactos bastante profundos", admite.

De acordo com o último Reuters Digital News Report (DNR), do Reuters Institute for the Study of Journalism, 39% dos jovens entre os 18 e 24 anos utilizam como fonte principal de notícias as redes sociais.

Tiago Lapa destaca que "para haver informação de qualidade é preciso pagar por ela", mas a tarefa fica difícil quando falamos de jovens que "têm baixos rendimentos" que os impedem, por exemplo, de pagar as subscrições de jornais. Também aqui, defende o investigador do ISCTE, o Estado pode intervir.

"Se calhar do ponto de vista dos poderes públicos, seria interessante perceber se é possível oferecer a subscrição dos jornais ou reduzir o seu preço. Também nas escolas poderia haver uma formação própria no domínio da literacia digital ou mesmo projetos extracurriculares que ajudassem os alunos a adquirir competências a este nível. Por exemplo, o Jornal Público e o Diário de Notícias apoiam a construção de jornais escolares".

Neste episódio, falamos ainda sobre algoritmos. Desde suicídios a depressões e distúrbios alimentares, são várias as razões que levaram à abertura de processos contra a Meta, a empresa responsável pelo Facebook e Instagram. Os algoritmos viciam-nos mesmo nas redes sociais?

"Sem dúvida e também aqui falta regulamentação. Os algoritmos filtram a informação por nós, dão sugestões e apresentam resultados segundo o nosso historial de navegação. Entramos num círculo vicioso em que só consumimos coisas dentro de uma esfera de interesses limitada, havendo menor abertura à novidade e a ideias e a valores contrários aos nossos. Quando essa informação poderia ser bastante relevante para a nossa tomada de decisões no dia-a-dia", alerta.

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