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Geração Z
Nasceram na era das tecnologias de informação, são mais práticos e mobilizam-se por causas. Até dispensam o carro e a casa, também porque não têm grandes salários para pagá-los, mas arriscam ter o seu próprio negócio. Como podemos ajudá-los? Quais os medos que enfrentam? Que tal começarmos por ouvi-los? "Geração Z" é um podcast quinzenal, publicado à quarta-feira, às 18h, da autoria do jornalista Alexandre Abrantes Neves. Esta é uma parceria Renascença/Euranet Plus.
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Geração Z e a arte."O artista pode ter causas, mas não é uma ONG"

Geração Z e a arte. "O artista pode ter causas, mas não é uma ONG"

15 jun, 2022 • Beatriz Lopes , João Campelo (sonorização)


As redes sociais são um viveiro de novos talentos que querem singrar na arte. Dão cor e forma às suas inquietações, emoções, muitas vezes, aos problemas sociais e políticos que nos rodeiam. Será uma tendência da arte contemporânea falar de racismo, alterações climáticas e identidade de género? Ana Aragão, arquiteta e ilustradora, é a convidada do podcast desta semana.

Os animais feitos a partir de lixo de Bordalo II, os polémicos graffitis anti-capitalistas de Banksy, o preconceito e a violência contra as mulheres pintados por Paula Rego. Há quem até possa achar que os artistas seguem modas. Outros, elogiam a forma como as manifestações artísticas estão à altura dos tempos e podem despertar políticos ou incentivar a transformação social. Mas será esta uma tendência da arte contemporânea? A arte pode ser apenas uma reação alérgica do que nos rodeia? E os jovens? São alérgicos a galerias e museus?

No nono episódio do Geração Z, falamos com Ana Aragão, a arquiteta desenhadora de mundos urbanos imaginários onde cabem casas voadoras, prédios que parecem desmoronar - como no jogo Jenga - ou mesmo cidades inteiras onde quem as observa se perde, tal é a precisão e o pormenor da caneta. Mas haverá algum paralelismo entre o mundo imaginário de Ana e o mundo real? Um bairro com casas empilhadas pode ser uma crítica à gentrificação urbana e à especulação imobiliária?

"Falar de cidade é muito mais do que isso", esclarece Ana que vê a cidade como "a maior construção do homem, infinitamente grande e inesgotável". A desenhadora portuense reconhece que, seja implícita ou explicitamente, todas as obras são o reflexo de um olhar crítico, mas alerta que "a arte não é uma bandeira ou partido".

"Ultimamente veem-se muitas manifestações artísticas que parecem bandeiras, partidos, causas... Na minha opinião, a arte não é uma bandeira, não é uma manifestação, não é uma luta com o mundo. Eu diria que, intrinsecamente, é uma luta entre mim e mim, é uma luta interna. O artista não é uma ONG, embora possa ter as suas causas. Eu gosto muito de ironia, acho muito mais importante até do que a crítica, parece-me mais inteligente. Agora, pela parte que me toca, eu garanto que os artistas não vão salvar o mundo, pelo contrário."

Neste episódio, Ana Aragão fala também da forma como as redes sociais podem dar-nos pistas sobre "o que ver, ler e visitar", alertando contudo que "não são as redes que nos formam e ensinam. As pistas só podem ser confirmadas pela experiência direta". Sobre a relação dos jovens de hoje com a arte, a desenhadora garante que o gosto pela arte não tem idade e recorre a outra paixão que todos os dias a inspira a desenhar: a literatura

"Há um texto de Eduardo Galeano que fala sobre um menino, o Diego, que vai com o pai ver pela primeira vez o mar e fica tão impactado que fica em silêncio e depois vira-se para o pai e diz "Ajuda-me a olhar". E eu acho esse texto belíssimo porque de facto eu diria que a relação das pessoas com a arte não tem idade. A relação íntima com algo artístico que nos emociona é um bocadinho aquele impacto que o Diego teve perante a primeira vista que teve da imensidão do mar. E isto pode acontecer aos dez anos, aos 25, aos 100... É até possível que isto nunca possa acontecer. A mim acontece-me vezes demais."

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