23 ago, 2024
Em democracia usar uma linguagem cortês quando se criticam adversários políticos não é apenas um imperativo de boa educação. É o reconhecimento democrático de que o adversário não é um inimigo.
Ao contrário do que acontece noutros regimes, a democracia não elimina os políticos derrotados: nunca a derrota é definitiva, salvaguardando-se sempre a possibilidade de quem perde uma eleição poder ganhar a seguinte.
Ora um certo grau de violência na linguagem no debate político revela a vontade, mais ou menos consciente, de eliminar o adversário, que terá passado a inimigo. Por isso é inaceitável em democracia.
O infindável incêndio na Madeira levou membros do governo regional a chamarem “abutres políticos” e “treinadores de bancada” aos políticos da oposição regional que criticaram a gestão do referido incêndio. Não são expressões próprias de um debate civilizado.
Entretanto, em Chicago, onde decorre a convenção do partido democrata, manifestantes reivindicando o fim do apoio norte americano a Israel, chamaram “genocida” ao presidente Joe Biden e “assassina” a Kamala Harris. Talvez estes esquerdistas prefiram Trump para ser de novo presidente dos EUA. Esquerdistas que mostram assim como se situam fora da democracia pluralista.
É próprio de autocratas troçarem das “boas maneiras” da democracia. Eles oferecem “soluções” expeditas para os problemas, desprezando aquilo que consideram mera perda de tempo – os debates parlamentares. Durante longos anos ouvimos em Portugal esta ladainha anti-democrática. Alguém quer regressar a esse tempo sem liberdade?