02 out, 2023
Na passada terça-feira o presidente dos Estados Unidos juntou-se a um piquete de grevistas do sector automóvel, no Michigan. É a primeira vez que um presidente americano o faz; mas, quando era senador, Biden participou em muitos piquetes de greve do sindicato United Auto Workers (UAW).
Trata-se de uma greve popular na América – dizem as sondagens que dois em cada três americanos apoia esta greve. Por isso também Donald Trump fez o gesto de se colocar pessoalmente ao lado dos grevistas. Biden e Trump tiveram presente, claro, as eleições presidenciais de Novembro do próximo ano, nas quais se deverão enfrentar.
A greve afeta simultaneamente os três grandes construtores de automóveis de Detroit - Chrysler, General Motors e Ford - o que acontece pela primeira vez na história.
O sindicato UAW dispõe de um considerável fundo destinado a financiar os grevistas, que não recebem salário. Nas preocupações destes estão, naturalmente, as remunerações que pretendem passar a receber. Biden disse aos grevistas que eles merecem um “aumento significativo”, pois “salvaram a indústria automobilística em 2008” e fizeram muitos sacrifícios quando as “empresas estavam em apuros”.
Mas na cabeça dos grevistas estão também, certamente, outras preocupações para além dos salários. Aproxima-se o tempo em que o fabrico de carros deixará de envolver veículos com motor a combustão, para passar, cada vez mais, a ser produção de veículos movidos a eletricidade. Ora a construção e a manutenção de veículos elétricos, com uma mecânica mais simples, requerem menos trabalhadores. Daí o receio de futuros encerramentos de unidades de produção automóvel, com os consequentes despedimentos.
Aliás, já em 2019 uma greve na General Motors fora sobretudo motivada pela decisão da empresa de encerrar quatro fábricas. São os “danos colaterais” da transição que terá de se operar na indústria automóvel, a mais importante mudança em mais de um século no sector.
Francisco Sarsfield Cabral