25 set, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
Antes da II Guerra Mundial, a estratégia do Reino Unido quanto à Europa era tentar evitar que um país da Europa continental alcançasse um excessivo poder. Quando a Alemanha nazi desencadeou a guerra, parecendo inicialmente vencer todos os obstáculos, os britânicos, quase isolados, souberam fazer-lhe frente.
Depois da derrota alemã e da paz, Londres não embarcou na integração europeia. Os dirigentes britânicos não acreditaram no Tratado de Roma (1957) e alguns deles profetizaram um fracasso para a nascente Comunidade Económica Europeia (CEE). À Grã-Bretanha apenas interessava o livre comércio, por isso impulsionou a EFTA.
Esta associação de comércio livre nasceu em 1960, agrupando, além do Reino Unido, a Suíça, a Áustria, e três países nórdicos, Noruega, Suécia, Dinamarca e... Portugal. O nosso país não era então uma democracia, o que lhe vedava qualquer hipótese de adesão à CEE (que, aliás, o regime não desejava). Foi assim que começou o envolvimento de Portugal na integração europeia.
Aconteceu, então, que – contra as previsões britânicas - a CEE se revelou um enorme êxito. O que levou o Reino Unido a solicitar a adesão à CEE logo em 1961. Só que o general de Gaulle, presidente de França, vetou essa adesão, pois desconfiava dos ingleses; só em 1973 o Reino Unido entraria na CEE, já de Gaulle não era presidente de França.
Na UE, que sucedera à CEE, a participação dos britânicos levou a vários conflitos menores; mas foi por iniciativa de Londres, não dos outros Estados membros, que o Reino Unido abandonou a UE, em 31 de Janeiro de 2020. Foi o Brexit. Os defensores da saída dos britânicos da Europa Comunitária multiplicaram-se em declarações populistas – e, muitas delas, falsas. Por isso a maioria dos britânicos lamenta, agora, o Brexit.
A invasão da Ucrânia pela Rússia mostrou que o Reino Unido e os países continentais têm em comum muitas coisas, desde logo o apoio à Ucrânia. Por isso é natural que estejamos agora a assistir a uma certa aproximação entre o Reino Unido e países da UE, como a França.
O rei Carlos III realizou há dias a sua visita oficial a França, antes impedida pela agitação social neste país. Uma sondagem indica que 71% dos franceses têm uma opinião favorável sobre a família real britânica.
E o líder dos trabalhistas britânico, Keir Starmer – provável próximo chefe do governo -, anunciou que pretende rever o acordo de cooperação económica e política entre o seu país e a UE, posterior ao Brexit. Mas tornou claro que não pretende regressar à UE, ou à união aduaneira ou ainda ao mercado único europeu. Nem os países da UE aceitariam agora o Reino Unido de volta. Trata-se simplesmente de fazer funcionar a cooperação entre países europeus.