22 set, 2023
Segundo a associação ambientalista Zero, as emissões de dióxido de carbono pelo transporte rodoviário (gasolina e gasóleo) não param de aumentar. Entre julho de 2019, antes da pandemia, e julho do corrente ano essas emissões aumentaram 6,2%, quando deveriam estar a descer para cumprir os objetivos do Plano Nacional de Energia e Clima.
O transporte ferroviário é bem mais amigo do ambiente, sobretudo se for eletrificado. Hoje considera-se que percursos até 600 quilómetros não devem ser feitos de avião, que é muito poluente, mas de comboio. Por outro lado, os socialistas portugueses foram muito críticos do excesso de investimento nas autoestradas quando estavam na oposição; mas são governo há oito anos e a modernização da via férrea não há meio de encarreirar.
Ao contrário do que acontece com Espanha e França, o mapa ferroviário em Portugal está atrasado décadas. Entre 1995 e 2018 a nossa rede ferroviária diminuiu 18%. E sucedem-se os falhanços das metas previstas para a conclusão de obras.
Esta semana soube-se que a modernização da Linha da Beira Alta, que deveria estar concluída em 12 de novembro próximo – promessa solene do ministro Galamba – afinal não ficará pronta nessa data. Não é a primeira vez que as obras nesta Linha ultrapassam o calendário previsto. Note-se que a Linha da Beira Alta, a principal via de ligação à Europa, está em obras desde 2019 e que desde abril do ano passado se encontra encerrado à circulação o troço entre Pampilhosa e Guarda, para se poder trabalhar à vontade...
O jornalista do Público Carlos Cipriano, que acompanha as vicissitudes do sistema ferroviário nacional, comparou o tempo que demorou a construir a Linha da Beira Alta, inaugurada em 1882, com o tempo que já leva a modernização daquela Linha. Há um século e meio foram precisos 46 meses para construir uma via férrea entre Figueira da Foz e Vilar Formoso (252 quilómetros), contra os 53 meses que já dura a modernização da via entre Pampilhosa e Vilar Formoso (202 quilómetros), não se sabendo quando as obras irão acabar. É inaceitável que se atrase indefinidamente uma infraestrutura desta importância, apesar de a tecnologia ser hoje bem mais eficaz do que a que existia há século e meio.
Infelizmente, o atraso desta Linha está longe de ser caso único. Acontece que os atrasos são sistemáticos em matéria de obras nos caminhos de ferro no nosso país.
No Portal “A que velocidade anda o Ferrovia 2020?” lê-se que já passaram mais de 28 mil dias para além dos que estavam inicialmente previstos em todos os troços, levando ao consumo adicional de 21 milhões de litros de combustível – consumo que poderia ter sido evitado se as obras tivessem sido concluídas a tempo. É o país que temos...