02 jun, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral
Quando Trump ganhou a eleição presidencial de 2016 muitos criticaram a desatenção com que foi encarado o fenómeno político que Trump encarnava. Depois, Joe Biden venceu Trump na eleição de 2020 e nas eleições intercalares de 2022 numerosos favoritos de Trump foram derrotados. Parecia que o personagem estava politicamente liquidado.
Engano: hoje Trump lidera com larga vantagem as primárias do partido republicano para escolher o candidato às presidenciais de novembro de 2024. E não é seguro que Joe Biden, atual presidente e candidato à reeleição, consiga vencer Trump nessas eleições.
Mas, desta vez, há quem se preocupe com a ameaça à democracia que Trump representa. O semanário britânico “The Economist” dedicou a essa ameaça a capa e o primeiro e mais importante editorial da edição da semana passada.
Trump passou os últimos anos a tomar gradualmente conta de todo o aparelho do partido republicano – não se lhe pode negar a habilidade com que levou a cabo tal tarefa. É esse um dos motivos que praticamente inviabilizam as candidaturas de outros políticos republicanos, como o governador da Florida, Ron DeSantis, que concorram com Trump.
Ora Trump é uma ameaça à democracia americana e à liderança internacional dos Estados Unidos. Escreve o “Economist” que “devemos levar a sério a possibilidade de o próximo presidente dos EUA ser alguém que dividirá o Ocidente e encantará Vladimir Putin; que aceita os resultados eleitorais apenas quando ganha; que classifica de mártires os desordeiros que em 6 de janeiro de 2021 assaltaram o Capitólio e que ele quer que sejam perdoados; que propôs a violação do teto da dívida da Administração americana para atrapalhar J. Biden; e que está a ser alvo de múltiplas investigações criminais, incluindo por agressão sexual”.
Aí está uma boa síntese do que Trump representa. A esta lista poderia ainda acrescentar-se a hostilidade dele à entrada de imigrantes nos EUA.
Trump já só engana quem quer ser enganado. Não é exagero dizer que ele é certamente a maior ameaça à democracia americana desde a independência dos EUA em 1776. Convém ter presente que, se Trump voltar à Casa Branca, as democracias liberais, e não só a norte-americana, sofrerão uma enorme derrota.