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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A UE e Portugal

10 mai, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Desde 1 de janeiro de 1966 Portugal faz parte da Europa comunitária. E desde essa data desapareceram em Portugal os boatos sobre golpes militares, que antes fervilhavam. A intuição política de Mário Soares teve razão.

Pelo segundo ano, o Dia da Europa foi celebrado com a guerra na Ucrânia a provocar muitos mortos e feridos. A invasão russa da Ucrânia acontece fora das fronteiras da União Europeia (UE), mas ela ofende o espírito de paz que marca a integração europeia.

Portugal fez parte da então CEE, depois UE, desde o início de 1966. Qual foi o maior benefício para o nosso país da participação na Europa comunitária? Julgo que foi, e é, o reforço da nossa democracia.

Lembro, uma vez mais, a posição decisiva de Mário Soares, ao solicitar o início das negociações com vista a aderir à então Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia. O pedido de adesão de Portugal à CEE foi formalizado em 28 de março de 1977, quase três anos após o 25 de abril.

O que levou o então primeiro-ministro Mário Soares a solicitar a adesão à CEE? M. Soares tinha ouvido vários economistas sobre o assunto, tendo a maioria deles recomendado que Portugal esperasse mais alguns anos antes de se integrar na Europa comunitária, de modo a preparar a economia portuguesa para essa integração. Mário Soares agradeceu o conselho, mas não o seguiu; decidiu solicitar a adesão à CEE.

Nos anos seguintes ao 25 de abril, que foi uma revolta militar, foram frequentes os boatos, porventura alguns deles verídicos, de que grupos estariam a preparar um golpe militar. Ora, após a data da adesão à CEE esses boatos, que antes fervilhavam, mesmo depois do 25 de abril, desapareceram felizmente. Tinha-se tornado evidente que um golpe militar, como os muitos que marcaram a nossa história desde a vitória dos liberais sobre os miguelistas em 1834, seria incompatível com a integração na CEE, depois UE. A intuição política de Mário Soares teve razão.

Aliás, compreende-se a aversão da direita não democrática à integração europeia. A ideia de uma democracia iliberal, autoritária, no fundo uma não democracia, não se enquadra com fazer parte da Europa comunitária. Daí os problemas que existem em relação à Hungria e à Polónia.

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