05 mai, 2023
Na noite da passada terça-feira fomos brindados com uma cuidadosa encenação televisiva. Depois de um coro praticamente unânime de comentários apontando que o ministro das Infraestruturas, J. Galamba, não tinha condições para continuar no Governo, e depois de o próprio ministro Galamba ter apresentado a demissão, o primeiro-ministro surpreendeu ao não aceitar essa demissão.
Costa poderia ter informado Galamba dessa decisão, que assim não teria avançado com a demissão. Mas isso iria retirar surpresa e dramatismo à intervenção televisiva de A. Costa. Aliás, não é de excluir que Galamba, quando apresentou e divulgou o seu pedido de demissão, já conhecesse a reposta do primeiro-ministro, assim colaborando na encenação.
O primeiro-ministro avaliou a prestação de Galamba no caso TAP apenas nas anteriores 24 horas, não lhe encontrando falhas. Deste modo ignorou que, dias antes, Galamba fizera afirmações contraditórias sobre, por exemplo, a reunião, que patrocinou, do grupo parlamentar do PS com a ex-Presidente executiva da TAP – na véspera de esta senhora ir responder à Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela da TAP.
Foi com manifesta satisfação que António Costa reconheceu que a sua decisão não só ia contra a opinião generalizada, incluindo a opinião do Presidente Marcelo, como ela brotava da sua consciência. A. Costa mostrou-se, assim, como um líder corajoso, forte e obediente a princípios éticos. Uma imagem bem diferente da que nos últimos tempos ele tem transmitido e que o levou a 27 pontos de percentagem negativos nas sondagens.
Igualmente pareceu A. Costa satisfeito por ter contrariado a opinião do Presidente da República, abrindo com ele um conflito que não contribuirá para a tão falada estabilidade política. Enfraquecer Marcelo também fez parte da encenação de quinta-feira.
Uma provável vítima desta encenação é J. Galamba, que nas próximas semanas poderá ser alvo de mais notícias negativas vindas da Comissão Parlamentar. Mas isso pouco importa a António Costa; a encenação foi montada para proteger o primeiro-ministro, não o ministro das Infraestruturas.