Tempo
|
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Falando de juros

31 mar, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os bancos centrais combatem a inflação subindo os juros. Outra coisa é mitigar os efeitos da inflação. Em Espanha a alta de preços recuou em março. Os juros da dívida soberana portuguesa mantêm-se baixos, o que é positivo. Menos positivos são os juros muito baixos que os bancos em Portugal pagam aos depositantes.

Na semana passada, quando a Reserva Federal (Fed), o banco central dos EUA, subiu 25 pontos de base o seu juro diretor, o New York Times e o Washington Post saíram com grandes títulos praticamente iguais: a Fed sobe os juros, apesar da turbulência nos mercados financeiros. Não se deram conta de que Jerome Powell, o presidente da Fed, tinha dito que subia os juros apenas 25 pontos por causa e não apesar da turbulência financeira. É que, argumentara Powell, essa turbulência já tinha levado os bancos americanos a colocarem algum travão na concessão de crédito. Assim, a Fed subiu apenas 25 pontos base, quando semanas antes J. Powell tinha alertado para que a subida da inflação reclamava juros altos.

Esta é uma matéria complexa, em que os bancos centrais andam à procura do caminho certo para fazerem baixar a inflação. Aliás, em Portugal nota-se em muitas afirmações públicas sobre inflação uma confusão que importa desfazer. São frequentes as opiniões sobre combater a inflação com apoios a quem sofre mais com a alta de preços. Ora uma coisa é combater a inflação, o que os bancos centrais fazem subindo juros, e outra, muito diferente, é mitigar os efeitos da inflação nos rendimentos das pessoas e das empresas. Os apoios para mitigar a inflação são devidos por um imperativo de justiça social, sobretudo quando direcionados para as famílias de menores recursos, mas devem ser de molde a não prolongarem a inflação.

Uma crítica frequente entre nós é que o BCE faz mal em subir os seus juros, pois a inflação na Europa resulta da guerra na Ucrânia e não de um problema de excesso de procura. Ora em Espanha a inflação baixou para 3,3% em março, contra 6% em fevereiro; trata-se do valor mais baixo desde agosto de 2021. E a inflação “core” (excluindo alimentação e energia) baixou pela primeira vez em 23 meses.

Os juros da dívida soberana portuguesa a dez anos mantêm-se baixos, o que é positivo. Mas há uns juros de que os portugueses se podem queixar por serem demasiado baixos. Refiro-me aos juros que a banca portuguesa paga aos depositantes, que subiram muito pouco e estão abaixo da média europeia. Como os certificados de aforro (dívida pública) pagam bastante mais, dos bancos tem saído muito dinheiro dos depósitos. Esperemos que os bancos que operam em Portugal subam finalmente os juros aos depositantes – enquanto eles não fogem todos.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.