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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A saúde à espera de melhores dias

06 mar, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O agravamento do custo de vida pode ter reflexos sérios na saúde de muito portugueses. Manuel Pizarro e Fernando Araújo são pessoas sérias e competentes. Mas, se querem mostrar que algo muda na saúde para melhor, não poderão esperar muito mais tempo.

O agravamento do custo de vida, por causa da inflação, e a insatisfação dos professores da escola pública são, nesta altura, os mais graves problemas que o Governo enfrenta. Mas não se devem esquecer outros problemas que afligem os portugueses e que podem acentuar-se. É o caso da saúde, de enorme importância, sobretudo para quem não pode aceder a médicos privados e tudo espera do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A saúde de muitas pessoas também é afetada pela inflação. Sabe-se que numerosas famílias tiveram de cortar com despesas alimentares, porque o dinheiro não chega e a alimentação encareceu 20% de fevereiro de 2022 a igual mês de 2023. Provavelmente, também estarão a cortar em despesas de saúde, deixando de comprar medicamentos receitados pelos médicos. O que não augura nada de bom em matéria de saúde para as camadas mais pobres da população.

A classe média, presumivelmente, também não se livra de ter de renunciar a alguns medicamentos prescritos. No passado dia 1, a ADSE, subsistema de saúde do Estado, subiu os preços dos bens e serviços que apoia, sem avisar previamente os beneficiários. A subida foi, em média, de 5%, mas há casos de subidas muito pronunciadas em algumas consultas de especialidades e em certos exames médicos. Não se contesta que os preços da ADSE teriam de agravar as condições dos seus apoios no contexto de inflação em que vivemos; apenas se reclama atenção governamental quanto ao que isso representa para a bolsa de muitas famílias.

Por outro lado, nos últimos dias, continuaram a surgir manifestações de problemas mais ou menos crónicos da saúde em Portugal. Problemas nas urgências pediátricas e obstétricas, por exemplo. E o Hospital de Loures, Beatriz Ângelo, entrou em crise; demitiram-se os responsáveis pelas urgências e os tempos de atendimento atingiram níveis inaceitáveis.

Os utentes deste Hospital recordam que, quando vigorava a parceria público-privada, as coisas corriam bem melhor. O antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes acusou o Governo de “irresponsabilidade política” e de “impulso ideológico” na gestão do Hospital Beatriz Ângelo (o fim daquela parceria). E o presidente socialista da Câmara de Loures, Ricardo Leão, admitiu um possível regresso da gestão daquele hospital ao setor privado.

Manuel Pizarro tomou posse como ministro da Saúde em setembro de 2022. Depois foi nomeado diretor executivo do SNS Fernando Araújo, que havia feito um bom trabalho no Hospital de S. João, no Porto. Mas a direção executiva do SNS só no princípio do ano corrente começou a funcionar.

O primeiro-ministro avisou, em setembro, que o ministério da Saúde iria prosseguir a sua atuação, não devendo a mudança de ministro alterar a política seguida até aí. Por exemplo, acrescento eu, quanto a tornar o SNS mais atrativo para os médicos. Por isso não se nota grande diferença na gestão deste setor nem os problemas que nele surgem foram ultrapassados. Manuel Pizarro e Fernando Araújo são pessoas sérias e competentes. Mas, se querem mostrar que algo muda na saúde para melhor, não poderão esperar muito mais tempo.

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