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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Novo ciclo nas relações entre Londres e Bruxelas

03 mar, 2023 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Seja qual for o futuro do acordo sobre a Irlanda do Norte anunciado há dias, parece claro que um novo ciclo se abriu nas relações entre Londres e Bruxelas. Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido, quer estabelecer com a UE laços normais de cooperação. E a UE só tem a ganhar com esse novo clima.

Como é sabido, a campanha para o referendo sobre a saída da Grã-Bretanha da UE, em junho de 2016, foi conduzida pelos partidários da saída com ligeireza e enorme falta de profissionalismo. Por isso muitos britânicos lamentam, hoje, que o Brexit se tenha concretizado.

Um dos principais resultados dessa débil preparação foi os negociadores britânicos não terem analisado a sério o problema da Irlanda do Norte, o Ulster. O problema era o seguinte: uma vez que o Ulster é parte integrante do Reino Unido, tendo este saído da UE passaria a existir uma fronteira entre a República da Irlanda, país membro da UE e o Ulster. Mas restabelecer essa fronteira iria violar o acordo chamado de sexta-feira santa, que em 1988 pôs termo aos conflitos entre protestantes e católicos no Ulster. Esse acordo prometeu manter aberta aquela fronteira.

Trata-se do problema mais difícil do Brexit, que levou a várias tentativas de solução, logo abandonadas. O problema chegou a parecer insolúvel, mas o acordo a que chegaram britânicos e negociadores da UE terá ultrapassado a “quadratura do círculo”. O mérito é sobretudo de Rishi Sunak.

O regime que ainda está a vigorar estabelece uma fronteira virtual no mar, entre a ilha da Irlanda e a bem maior ilha da Grã-Bretanha. Os protestantes do Ulster detestaram este arranjo; agora alguns criticam a solução acordada há dias entre o primeiro-ministro britânico e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Essa solução prevê duas vias para a entrada no Ulster de bens vindos da Grã-Bretanha – uma via aberta, em que devem passar os bens para consumo no Ulster, e uma outra via, vigiada, para os bens que, do Ulster, se encaminhem para a República da Irlanda, território do mercado único da UE.

Seja qual for o futuro desse acordo, parece claro que um novo ciclo se abriu nas relações entre Londres e Bruxelas. Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido, quer estabelecer com a UE laços normais de cooperação, colocando um ponto final a quase sete anos de conflitos e birras, sobretudo por causa dos eurocéticos do partido conservador. E a UE só tem a ganhar com esse novo clima.

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