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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Turquia, um parceiro incómodo

18 jan, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A Turquia mantem a recusa de ratificar a adesão da Suécia e da Finlândia à NATO, pois exige desses países mais medidas. As forças armadas da Turquia são as mais poderosas da NATO, a seguir às dos EUA. Dificilmente poderia a NATO dispensar agora essas forças. Há que ter paciência com este parceiro incómodo.

Uma das consequências da invasão russa da Ucrânia foi ter acabado com a neutralidade de países como a Suécia e a Finlândia. No caso da Suécia o estatuto de neutralidade vigorava há mais de dois séculos. A agressividade expansionista da Rússia mudou a opinião pública dos dois países nórdicos – hoje a adesão à NATO goza de um amplo consenso na Suécia e na Finlândia.

A Turquia mantem a recusa de ratificar a adesão da Suécia e da Finlândia à NATO, pois exige desses países, em particular da Suécia, mais medidas. Por exemplo extradição de curdos, que Ancara acusa de ligações ao PKK, um partido curdo que é considerado terrorista por Erdogan. O primeiro-ministro da Suécia já declarou que não está disponível para aceder a estas últimas condições colocadas pela Turquia.

Como na NATO a adesão de novos países depende de um voto unânime dos atuais 30 Estados membros, a entrada da Suécia e da Finlândia será forçosamente adiada pelo menos por alguns meses. Não é um drama, até porque aqueles dois países estão a negociar com os Estados Unidos acordos de defesa.

A Turquia não é uma democracia. Também Portugal não era, quando em 1949 figurou entre os países fundadores da NATO. A Grécia e a Turquia são membros da NATO, mas as suas relações revelam-se complicadas, vivendo em permanência num clima de acusações mútuas. Por outro lado, a Turquia de Erdogan segue uma política hostil aos curdos, muitos dos quais vivem no país. O governo turco considera-os terroristas, pelo menos em potência.

As forças armadas da Turquia são as mais poderosas da NATO, a seguir às dos EUA. Dificilmente poderia a NATO dispensar agora essas forças. Assim, resta aos países membros e aos candidatos à adesão terem paciência com as posições deste parceiro incómodo.

Comentários
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  • Cidadao
    19 jan, 2023 Lisboa 10:28
    Uma maneira de ultrapassar este diferendo, ou melhor, esta chantagem - porque é disso que se trata - turca, é todos os outros Países que compõem a NATO, estabelecerem um acordo tipo NATO, com a Suécia e Finlândia que passariam a integrar a NATO mesmo nas barbas da Turquia que assim ficaria a ver navios com a sua chantagem. E claro, sancionar a Turquia pela sua atitude. Pode ter um exército importante, mas a Finlândia e a Suécia juntas, uma trás 40 anos de preparação para lutar com a Rússia e um exército de 1,2 Milhões de soldados bem treinados e equipados, e outra, uma das melhores indústrias militares da Europa e do Mundo. Pondo o caso nos pratos da balança, fica-se sem saber se a Turquia é assim tão indispensável. Não se pode admitir que um País bloqueie uma organização como a NATO, com chantagens puras.