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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A corrupção alastra

12 dez, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Fala-se muito de corrupção, mas ela já parece atingir altas figuras do Estado, nomeadamente no setor da Defesa. Não há vontade política para combater a corrupção.

A Transparência Internacional (TI), organização com sede em Berlim, no seu relatório anual (2021) colocou Portugal entre os países em risco de corrupção no setor da Defesa. A TI reconheceu ter havido melhorias desde 2015, mas acrescentou que continuaram a registar-se problemas de prevenção e de mitigação dos riscos decorrentes da falta de fiscalização.

Foi, há dias, notícia que a Polícia Judiciária deteve cinco pessoas no ministério da Defesa, entre as quais um alto quadro do Estado. Pelo menos até agora, não haverá nenhum militar envolvido nestas suspeitas. É civil o alto quadro detido, que foi durante seis anos Diretor-Geral de Recursos da Defesa Nacional. Em causa estará um alegado esquema de suborno relativo a obras no Hospital Militar de Belém. Concretamente, poderão estar aqui envolvidos crimes da corrupção, ativa e passiva, peculato, participação económica em negócio, abuso de poder e branqueamento de capitais.

A confirmarem-se as suspeitas, este caso grave confirma os receios da TI. O antigo ministro da Defesa e hoje ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, fica numa posição incómoda. Acontece que João Gomes Cravinho elogiou publicamente o referido alto quadro, apesar de se terem levantado suspeitas sobre ele em 2020; e nomeou-o para presidente de uma empresa tutelada pelo Ministério da Defesa, a Empordef.

O que se afigura mais preocupante neste caso, a confirmarem-se as suspeitas, será o facto de a corrupção já envolver importantes figuras do Estado e conduzir a quebras na confiança dos cidadãos nos serviços públicos.

Mas não deve ser esquecido que, a outro e mais baixo nível, a corrupção é entre nós geralmente aceite desde há muito. O presidente da Transparência Internacional Portugal (TIP), Nuno Cunha Rolo, declarou ao Público de sábado passado que no nosso país e no último ano “uma em quatro pessoas fez subornos para ter acesso a um serviço público”.

À pergunta “que dificuldades a TIP encontra no combate à corrupção em Portugal?” respondeu Nuno Cunha Rolo: “não há uma vontade política para combater a corrupção”.

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