07 nov, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral
O único país que faz fronteira com Portugal é Espanha. Durante séculos os portugueses procuraram defender a sua independência, que os espanhóis ameaçavam, aliando-se ao Reino Unido e desbravando os mares.
A entrada simultânea na CEE, hoje UE, dos dois países peninsulares melhorou as relações luso-espanholas. Portugal, país mais pequeno do que Espanha, passou a ter na Europa comunitária um apoio para evitar possíveis prepotências que poderiam vir do outro lado da fronteira.
Como é natural, existem problemas entre os dois países. Nesta altura, o problema da água dos rios é o mais grave. Os principais rios que atravessam Portugal têm origem em território espanhol. Se a Espanha desvia muita água desses rios, Portugal sofre.
Na sexta-feira passada realizou-se mais uma cimeira luso-espanhola, desta vez em Viana do Castelo. Curiosamente, da agenda dessa reunião magna foram retirados os temas controversos, mantendo-se apenas os temas consensuais. Assim, sobre o problema da água a cimeira decidiu... criar um grupo de trabalho. As agências de gestão de recursos hídricos dos dois países vão reunir-se todos os meses para monitorizarem os caudais dos rios comuns. Por outras palavras, o problema da água dos rios foi adiado.
Quanto a um outro assunto em que não existe consenso entre os governos português e espanhol, o traçado da ferrovia tendo em vista a alta velocidade, a cimeira pouco ou nada adiantou. A ligação por comboio Lisboa-Madrid, por exemplo, continuará a demorar nove horas e a implicar dois transbordos. Um caso único na Europa comunitária.
Na cimeira de Viana foi patente um clima de amizade e cooperação entre os dois países. Mas para debater apenas assuntos que são à partida consensuais não vale a pena realizar cimeiras.