Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Os imigrantes e a extrema direita

19 ago, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Sem imigrantes inúmeras pequenas empresas em Portugal deixariam de funcionar. As posições hostis à imigração da extrema direita são contrárias às necessidades de mão-de-obra sentidas entre nós e noutros países.

A falta de gente para trabalhar é um problema que hoje afecta muitos países, nomeadamente europeus. A Espanha, por exemplo, tenta compensar a escassez de mão-de-obra facilitando a entrada de imigrantes vindos da América Latina; o facto de esses imigrantes falarem espanhol ajuda a sua integração na sociedade espanhola.

Fenómeno semelhante se observa entre nós. Portugal tem recebido muitos brasileiros. A comunidade brasileira já é o maior contingente de estrangeiros a viverem no país – 211 mil em março deste ano. Basta imaginar que não tínhamos trabalhadores brasileiros na economia portuguesa para percebermos que inúmeras pequenas empresas deixariam de funcionar – na restauração, no pequeno comércio e em muitas outras atividades.

Esta dependência da imigração sente-se também na economia americana. Os EUA são um país de imigrantes; mas está a baixar a entrada de imigrantes no território americano, agravando os problemas das empresas que procuram trabalhadores.

Entre julho do ano passado e julho deste ano a imigração líquida de estrangeiros nos EUA adicionou 247 mil habitantes à população do país. Ora este é o número mais baixo dos últimos trinta anos. A pandemia de covid-19 contribuiu para o declínio da imigração nos EUA, mas a tendência de baixa já se fazia sentir desde 2017.

Os novos imigrantes contribuíram em cerca de 70% para o crescimento da população ativa nos EUA na década iniciada em 2010. O Pew Research Centre calcula que sem a entrada de novos trabalhadores estrangeiros a população ativa nos EUA baixará de 166 milhões em 2020 para 163 milhões em 2040.

Curiosamente, a extrema direita não entende, ou não quer ver, esta necessidade de recurso a trabalhadores estrangeiros ao fomentar a hostilidade aos imigrantes. A extrema direita americana (Trump) e a extrema direita europeia. Veja-se, em Portugal, o Chega e a sua hostilidade aos imigrantes (além dos ciganos).

Por vezes a extrema direita invoca pretensas teorias da conspiração para atacar a imigração. A teoria da substituição, por exemplo, segundo a qual a entrada de imigrantes visa substituir a atual maioria de brancos na Europa por pessoas de pele mais escura. Uma fantasia racista.

As posições hostis à imigração da extrema direita são contrárias às necessidades de mão-de-obra sentidas em países que vão de Portugal aos EUA. São prejudiciais para o crescimento económico.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • José Bulcão
    19 ago, 2022 Almada 14:12
    Todas as opiniões são sempre uma visão parcelar de um determinado assunto. Concordo que não é correto invocar argumentos racistas neste caso. Todavia no caso português algumas áreas de negócio como a restauração têm falta de mão de obra porque não pagam bem, exigem um esforço e abnegação desproporcionas e oferecem um vínculo profissional precário. Claro que a solução passa pelo recurso à imigração proveniente de países onde aquele quadro é aceitável.