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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​A catástrofe alimentar

25 mai, 2022 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O espectro da fome é já uma trágica realidade nos países pobres. E tudo indica que a situação venha a piorar. Os pobres serão os mais afetados por esta crise alimentar.

As tropas russas bloqueiam o acesso da Ucrânia ao mar, no qual se concentram navios de guerra e submarinos russos. Este bloqueio não é apenas um grave problema para a economia ucraniana.

Ele também impede a exportação de cereais cultivados na Ucrânia para todo o mundo. Calcula-se que em Odessa estejam bloqueadas 25 mil toneladas de trigo e milho, equivalentes ao consumo anual dos países menos desenvolvidos.

O espectro da fome é já uma trágica realidade nos países pobres e tudo infelizmente indica que a situação venha a piorar.

É a subida brutal dos preços dos produtos alimentares e, no limite, a falta absoluta deles no mercado. Preocupa sobretudo a aparente impossibilidade de desviar aqueles cereais ucranianos para portos da Roménia, de modo a poderem chegar a quem mais necessita deles para consumo humano e também para alimentar animais.

A crescente escassez de cereais é ainda agravada pelas restrições à exportação que pelo menos 23 países já decidiram. O mais recente caso aconteceu na Índia, que proibiu a exportação de cereais. O que levou os preços do trigo no mercado mundial, que já haviam subido mais de 50%, a treparem ainda mais.

Aos efeitos da invasão russa da Ucrânia vêm somar-se a outros fatores negativos no plano alimentar. A China, primeiro produtor mundial de trigo, teve neste ano a pior colheita de sempre deste cereal. A pandemia da Covid-19, as alterações climáticas e o brutal encarecimento da energia, bem como dos fertilizantes, tudo isso se conjuga para que uma autêntica catástrofe alimentar esteja a desenhar-se no horizonte.

O semanário “The Economist” lembra que os pobres serão os mais afetados por esta crise alimentar. As famílias que vivem nas economias emergentes gastam 25% do seu rendimento disponível na alimentação, valor que chega a 40% na África ao Sul do Saara. António Guterres, secretário-geral da ONU, tem vindo a alertar para esta catástrofe iminente. Mas não consta que tenha sido ouvido.

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