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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Os franceses e os extremos

13 abr, 2022 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Somando os votos da extrema-direita e da esquerda radical verifica-se que mais de metade dos votantes na primeira volta das eleições presidenciais francesas são extremistas. Na segunda volta M. Le Pen não será eleita se votantes em Mélenchon a quiserem travar.

Tiveram maus resultados os candidatos ligados a partidos tradicionais na primeira volta das eleições presidenciais francesas. Foi o caso da direita moderada e sobretudo do partido socialista. Somando os votos na extrema-direita de Marine Le Pen e ainda no mais extremista Éric Zemmour aos obtidos por Mélenchon, da esquerda radical, anti-capitalista, atinge-se 52% da votação.

Impressiona que, em França, mais de metade dos votantes representem ideias extremistas. A França económica até tem registado um apreciável crescimento; o desemprego está em níveis historicamente baixos. Nas últimas décadas os franceses vieram para a rua protestar contra várias tentativas de reformas, como aconteceu recentemente com os “coletes amarelos” (gilets jeunes), que forçaram Macron a recuar, adiando algumas medidas.

Talvez algum sociólogo que conheça bem a sociedade francesa consiga explicar esta rebeldia gaulesa. Para já, o problema coloca-se quanto ao que irão fazer no próximo dia 24, dia da votação final da eleição presidencial, os votantes em Mélenchon, que chegaram aos 22% na primeira volta. Na noite de domingo passado Mélenchon exortou os seus apoiantes a não votarem em M. Le Pen – mas não disse para votarem em Macron.

Perante a possiblidade de M. Le Pen se tornar Presidente de França, seria desejável que Mélenchon desse mais um passo e apelasse ao voto em Macron, travando a extrema-direita. Talvez o faça. Mas, mesmo assim, nada garante que os adeptos de Mélenchon sigam as indicações do seu líder. Recorde-se que nos últimos vinte anos muitos dos que votavam comunista passaram a votar no partido de Le Pen, pai, e depois da sua filha Marine.

Extremistas de direita e de esquerda têm em comum não apreciarem a democracia liberal, que consideram um regime fraco e decadente. Veja-se Putin e o seu ódio às democracias liberais do ocidente.

Se M. Le Pen for eleita Presidente da República francesa dará uma vitória a Putin (personagem que ela muito considera, mas agora conseguiu disfarçar). E para a UE será um abalo mais grave do que foi o Brexit. M. Le Pen já não quer que a França saia da UE nem que abandone o euro; o alvo dela é minar por dentro a Europa Comunitária, à semelhança de V. Orban, na Hungria. Só que a França, país fundador da integração europeia, não é a Hungria.

E é dramático que, para evitar uma vitória da extrema-direita em França, se esteja tão dependente de votantes da esquerda radical.

Comentários
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  • António J Gomes Costa
    19 abr, 2022 Cacém 14:55
    A queda do muro de Berlim levou a acreditar num avanço da Democracia no mundo. Infelizmente e á semelhança com a queda do Nazismo, novas ameaças surgiram dos antigos aliados. Na Rússia á esperança seguiu-se o desânimo. E de novo surgiram as soluções "nacionalistas", desta vez à Putin, aproveitando o desespero das pessoas. Oportunidades perdidas, e novamente a Guerra numa crueldade sem fim.
  • João
    13 abr, 2022 Porto 08:34
    Análise pouco séria: alinha no politicamente correto. Macron defende o aborto e a eutanásia, mas a Le pen é que é a inimiga do mundo... Incoerências!