14 mar, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral
Na semana passada um tribunal federal considerou culpado um texano de 49 anos, Guy Reffit, que participou na invasão do Capitólio (onde funcionam as duas câmaras federais), em 6 de janeiro de 2021. Recordo que, nesse dia, cerca de dez mil pessoas cercaram e invadiram violentamente o Capitólio, em Washington, incentivadas por Trump.
A invasão provocou cinco mortos e centenas de feridos, sobretudo entre os polícias, que não conseguiram travar a multidão.
O objetivo dos invasores era impedir que fosse certificada a vitória de Joe Biden na eleição presidencial. Trump defendia que aquela eleição tinha sido “roubada”, contra inúmeras declarações das autoridades competentes segundo as quais a eleição presidencial tinha sido livre e justa. Porém Trump proclamava aos seus apaniguados que nunca deveriam aceitar uma derrota.
Competia ao então vice presidente dos EUA, Mike Pence, certificar o resultado eleitoral. O que ele fez, com coragem – gesto que lhe valeu a fúria e os insultos de Trump.
A invasão do Capitólio foi um dos mais graves, se não o mais grave, episódio da história da democracia americana. Não se tratou de um ato irrefletido e espontâneo de uma multidão. Como toda a gente pôde ver na televisão, em direto, foi uma tentativa de alterar violentamente o resultado da eleição presidencial. Um golpe de Estado tentado, portanto.
No entanto, ao longo de mais de um ano desde que ocorreu a invasão do Capitólio, Trump e altos dirigentes do partido republicano, com raras exceções, classificaram os invasores de “pessoas correntes” e o assalto de “legítimo discurso político”.
Esta aberração democrática começa a ser posta em causa nos tribunais federais. O texano acima referido arrisca-se a uma pena de prisão que poderá ir até 20 anos.
Muitos outros julgamentos de implicados na invasão do Capitólio se irão seguir. Há a esperança de que os políticos do partido republicano acordem para a realidade do sucedido e cessem de branquear este grave atentado à democracia. Caso contrário, é a própria democracia americana que fica posta em causa.