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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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“Robots” e empregos

28 jan, 2022 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Contra as previsões que apontavam os “robots” como destruidores de empregos surgem indícios de sentido inverso. As narrativas sobre o fim dos empregos por causa dos “robots” são desmentidas pela realidade.

Entre nós, empresas e particulares queixam-se da dificuldade em encontrar pessoas que trabalhem, mão-de-obra. Mas não é um problema português. No conjunto dos 35 países da OCDE regista-se um “record” de 30 milhões de ofertas de trabalho por preencher.

Nos Estados Unidos está a revelar-se difícil contratar gente, nos serviços, na indústria e na área financeira. Calcula-se que o número de pessoas disponíveis para trabalhar esteja atualmente 2% abaixo do nível registado nos EUA antes da pandemia.

Esta situação beneficia quem procura emprego – conseguirá com relativa facilidade empregar-se; e poderá aspirar a um melhor salário do que receberia há dois anos atrás.

Mais: parecem desvanecer-se os receios, de que tantas vezes temos ouvido falar, segundo os quais a automação e em particular os “robots” iriam acabar ou, pelo menos, reduzir drasticamente os empregos. Quando surgiu a pandemia dizia-se, ainda, que os empregadores iriam preferir “robots”, que não apanham infeções, a pessoas, que por vezes adoecem.

Ora, análises sobre o comportamento recente do mercado de trabalho em países desenvolvidos revelam algo bem diferente dessas previsões dramáticas. O semanário britânico “The Economist” dedicou ao assunto um interessante artigo, cujas principais conclusões irei aqui citar.

Na OCDE o desemprego pouco ou nada subiu desde o início da pandemia da covid-19. Em 2019 a taxa de emprego tinha atingido níveis muito elevados em vários países da OCDE. E nos países onde os “robots” são mais utilizados, caso do Japão e da Coreia do Sul, as taxas de desemprego são as mais baixas.

Começam, assim, a surgir teorias de sentido inverso às previsões que apontavam os “robots” como destruidores de empregos. Há agora economistas que defendem que a automação não só não diminui o emprego como o aumenta. De que maneira? Ao tornarem a empresa mais lucrativa, os “robots” levam a contratar mais pessoal. Um estudo da universidade de Yale sobre o mercado de trabalho japonês chega a apontar um número: um “robot” fará aumentar 2,2% o emprego de uma unidade industrial.

Um outro estudo da London School of Economics sobre o setor britânico das máquinas-ferramentas detetou uma clara ligação positiva entre automação e aumento do emprego.

Claro que ainda é cedo para ter ideias seguras sobre esta matéria. Mas pode desde já concluir-se que as narrativas sobre o fim dos empregos por causa dos “robots” são desmentidas pela realidade.

Comentários
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  • Anónimo
    06 fev, 2022 Lisboa 00:35
    Ou seja, a utilidade dos robots é nula e o que importa ao grande capital é que os trabalhadores (e não "colaboradores" como a novilíngua capitalista gosta de lhes chamar) se matem a trabalhar e não tenham tempo para o descanso e para o lazer.
  • Sindico
    28 jan, 2022 Pais 17:21
    Isso pode ser "lá fora". "Cá dentro" onde a gestão das empresas é modelo "Padaria Portuguesa", o que se quer é mão-de-obra que não reivindique, não falte, não receba salário, nem faça greve. Vão meter autómatos, mas fora os técnicos indispensáveis para os manobrar - de preferência pagos a salário mínimo - ninguém será contratado.