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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Depois da COP26

10 nov, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A frustração com os insuficientes avanços na COP26 não deve levar a desistir da luta pelo clima. Em democracia, teremos de tornar claro aos políticos que não terão o nosso voto se não se empenharem nessa luta.

A COP26 aproxima-se do fim. A reunião de Glasgow até pode prolongar-se por alguns dias além da data prevista para o seu encerramento, o que poderá ser um sinal positivo de que se alcançaram mais alguns acordos sobre o combate às alterações climáticas.

Eram muito baixas as expectativas para a COP26. Sabia-se ser improvável que de lá saísse algo de decisivo para evitar que o aquecimento global atinja valores perigosos. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para estarmos a cavar a nossa sepultura.

A frustração por se ter perdido, pelo menos em parte, mais esta oportunidade é compreensível, mas poderá levar a algo muito negativo.

O que está em jogo na COP26 não é uma questão de tudo ou nada. Ter-se avançado pouco não justifica desistir da luta contra o aquecimento global. Pelo contrário, torna essa luta ainda mais imperativa.

A tecnologia poderá dar uma ajuda, mas só por si ela pouco resolverá. O essencial depende da vontade política dos governantes.

O que poderemos nós, cidadãos comuns, fazer pelo clima? Para além de procurarmos mudar de vida, nos hábitos alimentares por exemplo, o nosso papel, em democracia, está em dizermos aos políticos que não terão os nossos votos se não tomarem as medidas necessárias para evitar um desastre climático.

A opinião pública dos países desenvolvidos deverá também pressionar os seus governantes para apoiarem financeiramente a descarbonização nos países pobres. Estes queixam-se de que durante muitas décadas os países ricos poluíram sem limites e agora querem impedir os países pobres de se industrializarem.

As manifestações exigindo medidas sérias de combate às alterações climáticas têm, naturalmente, um papel importante na pressão sobre os governantes para que tomem essas medidas. Importa, porém, ter presente que a manifestação não é um fim em si, nem um gesto anarquista contra o poder político, qualquer que ele seja.

Vendo pela televisão algumas manifestações em Glasgow fica-se com a dúvida sobre o que verdadeiramente movia muitos dos manifestantes: a preocupação pelo clima ou a hostilidade radical ao poder político.

O poder político tem muitos defeitos, mas sem ele não há democracia.

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