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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A má sina dos baixos salários

19 nov, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Há falta de gente para trabalhar, mas em Portugal os salários ainda não subiram. Até nas empresas exportadoras a predominância dos salários baixos é uma realidade. Assim não iremos longe.

Há anos que muitas tarefas agrícolas, em estufas nomeadamente, e na construção civil são executadas por imigrantes, pois os trabalhadores portugueses não se mostram disponíveis para essas atividades.

Recentemente a indisponibilidade alastrou a muitos outros sectores. A falta de pessoal afeta hoje inúmeras empresas. A hotelaria e a restauração, por exemplo, procuram imigrantes para poderem funcionar. Será que aumentou o número dos trabalhadores que preferem manter-se desempregados e a receber um subsídio de desemprego que é modesto?

Certo é que o salário médio dos portugueses é baixo, ficando cada vez mais próximo do salário mínimo. A conjuntura, nacional e internacional, até se mostra hoje favorável a uma valorização dos salários, que poderão recuperar de longos anos durante os quais perderam peso face ao capital. Mas, entre nós, ainda não existem sinais seguros da subida dos salários, não obstante a falta de pessoal para trabalhar.

Até nas empresas exportadoras, que lograram conquistar quotas de mercado no exterior, a predominância dos salários baixos é uma realidade. Mais de metade do emprego (55%) ligado à exportação é de baixas qualificações, escreveu Rui Tavares no “Público” (são números de 2014, mas não há mais recentes). Em Espanha é apenas um terço e na Grécia um quarto; na Polónia anda pelos 7%.

Por outro lado, o primeiro-ministro A. Costa reconheceu que a geração mais qualificada que sai das universidades portuguesas não encontra no país empregos adequadamente remunerados. Ou seja, mesmo nos escalões mais altos as empresas portuguesas, na sua maioria, pagam mal, não valorizando as qualificações académicas.

Também ao nível da gestão das empresas se nota a carência de pessoas com qualificações académicas. Só um terço das empresas portuguesas possui gestores com formação superior. “Se for às grandes empresas nacionais não vê muitos doutores (...). Nalgumas até não vê nenhum”. São palavras de Virgílio Machado, presidente da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, em entrevista à Renascença

Numa palavra, continuamos a competir com base nos salários baixos. Assim não iremos longe.

Comentários
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  • Digo eu
    20 nov, 2021 Cá 22:20
    Diminuir a carga fiscal das empresas, neste País, não traz reinvestimento e muito menos melhores salários. Basta ver o que aconteceu na Restauração com a diminuição do IVA: nem preços desceram, nem salários subiram. Os "empresários" alegaram que durante anos perderam dinheiro, e essa descida de impostos era a sua "compensação". E depois o Estado precisa desse dinheiro e se não o obtém das empresas, tem de aumentar os impostos às pessoas. Ou diminuir as despesas do Estado reduzindo a Função Pública. Só que esta é constituída maioritariamente pelos professores nas escolas, os médicos, enfermeiros e auxiliares nos Hospitais, Juízes e Oficiais de Justiça nos Tribunais, etc. A menos que se privatize tudo, mas depois não há dinheiro para as pessoas irem a médicos, usarem colégios e saúde privados, ou acham que o Estado despede e depois dá cheques a todos? Ah, mas aí os salários sobem ... Sobem mesmo? É que na Restauração depois da baixa de impostos, não subiram ... Talvez noutro País com outra classe e mentalidade dos empresários de lá. Nos de cá, isso era só mais dinheiro para meterem ao bolso.
  • Bruno
    19 nov, 2021 aqui 17:48
    Não se pode falar em salários sem se falar da carga fiscal sobre as empresas. Os encargos são tão pesados que a maioria das empresas não tem condições para aumentar salários uma vez que isso iria também reflectir-se numa maior contribuição fiscal da empresa. Os impostos em Portugal são muito altos, não só para as empresas mas também para os trabalhadores e consumidores. Como o Estado já privatizou todas as empresas que davam lucro, a única fonte de receita que tem ao seu dispor são os impostos e estes são, ainda assim, insuficientes para as despesas colossais do Estado. A solução teria de passar por resuzir as despesas do Estado, nomeadamente na Administração Pública, o que implicaria despedimentos. Mas nenhum governo tem coragem para fazer isso. A economia também teria de ser mais flexível para absorver esses desempregados, mas isso em Portugal não existe e,por isso, esse desemprego seria uma tragédia para essas pessoas.
  • ADISAN
    19 nov, 2021 Mealhada 13:06
    Porque vivi e trabalhei 34 anos na Alemanha, este artigo sobre salários baixos recorda-me os argumentos dos grandes sindicatos alemães, aos quais tenho o privilégio de ainda estar associado (IG Metall): Na verdade, eles argumentavam que o bom poder de compra das massas (trabalhadoras) se reflectia positivamente na economia, pois, nada adianta produzir, se não houver dinheiro nas famílias para comprar. E a verdade é que está provado que onde os salários são baixos a economia permanece estagnada.
  • Petervlg
    19 nov, 2021 Trofa 12:24
    Quando temos os governos, preocupados apenas com o salario mínimo, diz tudo! acho que se deve aumentar o salario mínimo, mas também os salários médios. Estou num empresa, desde 2011, tem apresentado sempre bons resultados anuais, nunca tive um aumento.