05 nov, 2021
Tendo o Orçamento de Estado para 2022 sido chumbado no Parlamento, o debate político em Portugal tem-se centrado em apontar culpas por este resultado, que nos leva a eleições antecipadas.
PS, Bloco de Esquerda e PCP protagonizam, naturalmente, esse debate, que não terminará tão cedo.
Na ordem do dia têm, igualmente, estado as divisões internas no CDS e no PSD, cujos líderes atuais são desafiados por quem se julga em melhores condições para obter bons resultados nas eleições que se seguem.
É verdade que esses confrontos assumiram por vezes, sobretudo no caso do CDS, contornos pouco aceitáveis numa democracia civilizada. Mas os partidos não são, nem devem ser, formações monolíticas – o debate interno é normal e desejável.
Winston Churchill, uma das figuras mais destacadas da democracia liberal no século XX, mudou, mais do que uma vez, de partido, passando dos conservadores para os liberais e vice-versa, durante a sua longa carreira política.
Dele se conta uma curiosa história: Churchill mostrava a Câmara dos Comuns a um jovem, explicando-lhe onde se sentavam os deputados. “Deste lado ficam os do nosso partido e em frente sentam-se os nossos adversários”. “Os inimigos?”, interrogou o jovem. “Não. Os inimigos sentam-se na nossa bancada”. Ou seja, os conflitos no interior dos partidos são por vezes mais violentos do que os travados contra membros de partidos opostos.
Por outro lado, importa reconhecer que, entre nós, os conflitos internos não envolvem apenas partidos de direita. No PS desenvolve-se, nesta altura, um debate que poderá vir a ganhar clara expressão no futuro próximo.
Pedro Nuno Santos, considerado como da ala esquerda do PS e apontado como possível candidato à liderança socialista após António Costa, defendeu há dias que a chamada “geringonça” não morreu e que ela voltará à cena política nacional. Em sentido diferente se pronunciou Adalberto Campos Fernandes, um socialista que foi ministro da Saúde.
Disse ele em entrevista à Renascença e ao Público: “Vejo dentro do PS um fascínio por fazer do partido um Bloco de Esquerda 2.0”.
Talvez este debate no interior do PS se venha a revelar como muito importante para o futuro da democracia em Portugal.