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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A interminável negociação do Brexit

18 out, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Boris Johnson não parece negociar de boa fé as alterações no protocolo da Irlanda do Norte, anexo ao acordo de saída do Reino Unido da UE. Por isso as negociações prolongam-se de forma absurda.

O referendo que levou o Reno Unido a sair da UE foi há mais de cinco anos. O resultado dessa consulta popular surpreendeu os próprios adeptos da saída britânica. Daí a notória falta de preparação dos governantes de Londres para lidarem com os problemas que eles próprios haviam criado, ao proporem o Brexit. A situação da Irlanda do Norte (Ulster) e o imperativo de manter aberta a fronteira com a República da Irlanda, compromisso do acordo de 1998 que pôs fim ao conflito entre protestantes e católicos naquele território, é o mais sério desses problemas.

A primeira-ministra Theresa May, que até havia votado pela manutenção do seu país na UE, assinou um acordo com Bruxelas segundo o qual o Reino Unido se manteria no mercado único europeu. Mas o primeiro-ministro que sucedeu a T. May, Boris Johnson, considerou inaceitável tal solução. Em dezembro de 2019 B. Johnson fechou um novo acordo com a UE, determinando que a Irlanda do Norte ficaria no mercado único europeu; o que implicava uma fronteira virtual entre aquele território e o resto do Reino Unido.

Na altura, B. Johnson considerou que esse acordo colocaria a Irlanda do Norte no “melhor de dois mundos”. Agora o governo de Londres quer alterar o acordo.

Não parece que B. Johnson esteja de boa fé. O seu antigo mentor e chefe de gabinete Dominic Cummings afirmou há dias que o primeiro-ministro nunca teve a intenção de aplicar aquele protocolo sobre a Irlanda do Norte...

Entretanto, a UE já apresentou substanciais concessões, nomeadamente eliminando medidas de controle sobre bens alimentares e farmacêuticos que entrem na Irlanda do Norte vindos do Reino Unido. Presume-se que tais bens não irão transitar depois para o continente europeu.

Mas o ministro do Brexit, David Frost, veio a Lisboa desvalorizar aquelas concessões e insistir na recusa de Londres de o Tribunal Europeu de Justiça vigiar a execução do protocolo sobre a Irlanda do Norte. Ora o semanário “The Economist” afirma que na Irlanda do Norte ninguém se preocupa com aquele Tribunal. Os partidos protestantes e pró-britânicos não gostam do acordo de 2019 porque receiam que ele incentive a Irlanda do Norte a ser integrada na República da Irlanda.

No fundo, o governo de Londres preocupa-se pouco com o que se passa no Ulster. Boris Johnson tem uma grande maioria na Câmara dos Comuns, não necessitando dos votos dos deputados da Irlanda do Norte. E continua a parecer que não negoceia de boa fé. O que prolonga absurdamente as negociações em curso.

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