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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Mudanças na banca

30 ago, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os sindicatos do setor bancário protestam contra a redução de efetivos, mas têm pela frente uma tarefa ingrata: as novas tecnologias mudaram a banca, emagrecendo-a, e não é possível recuar no tempo.

Antes da pandemia a poupança das famílias em Portugal tinha caído para níveis muito baixos. Mas as incertezas provocadas pela covid-19 inverteram a situação: no primeiro trimestre do corrente ano a poupança atingiu 14% do rendimento disponível das famílias; e em julho essa taxa superou em 1,5% a registada em julho de 2020.

Grande parte dessa poupança tem sido aplicada em depósitos bancários, que assim atingiram em julho passado um novo máximo: perto de 170 mil milhões de euros. A esmagadora maioria destes depósitos rende um juro baixíssimo, mas não há disponíveis alternativas melhores.

Pode, assim, dizer-se que os portugueses confiam na banca, apesar dos colapsos bancários que foram ao bolso dos contribuintes – BPN, Banif, BES/GES, etc. Mas a banca em Portugal e no mundo está a mudar, como revelam vários indicadores.

Há pelo menos vinte anos que não eram passados tão poucos cheques no país. Os levantamentos nas caixas multibanco registaram em 2020 uma queda histórica de 13%. Os clientes dos bancos cada vez mais preferem utilizar, a partir de casa, meios digitais para as suas operações, diminuindo as deslocações às agências bancárias.

Por isso no ano passado fecharam mais de 200 agências bancárias no território nacional. Na última década o número de balcões caiu 40% e os bancos perderam quase 18 mil funcionários. Em 2020 saíram da banca em Portugal mais de dois mil trabalhadores e as saídas vão continuar – por reformas antecipadas, rescisões mais ou menos amigáveis e também por despedimentos coletivos.

Os sindicatos do setor bancário protestam, mas têm pela frente uma tarefa ingrata: as novas tecnologias mudaram a banca, emagrecendo-a, e não é possível recuar no tempo.

Alegam os sindicatos que os bancos têm registado lucros – até o Novo Banco. Esta é uma boa notícia para os contribuintes portugueses, que receavam que adicionais e custosos colapsos bancários lhes fossem à carteira. Mas os lucros dos bancos não travam a redução de efetivos no setor, pois esta traduz uma adaptação às novas realidades. É uma luta sindical inglória.

P.S. Depois de ter escrito o texto acima, li na edição de sábado do jornal “Público” uma curta entrevista à reitora da Universidade Católica, Prof.ª Isabel Capeloa Gil, sobre o recém criado curso de medicina. À pergunta do jornal sobre qual a razão para um estudante escolher aquele curso pagando cerca de 100 mil euros, afirma a reitora pretender renovar a educação médica em Portugal, procurando candidatos com excelentes notas, que tenham empatia para lidar com a fragilidade humana e motivados para contribuir para o bem comum.

Penso serem convenientes mais esclarecimentos sobre o projeto do curso de medicina da Universidade Católica. Por exemplo, até que ponto o curso poderá ser frequentado por alunos que não tenham qualquer possibilidade de pagar tão elevadas propinas. E de que modo os diplomados por este curso poderão beneficiar os pobres, que são a prioridade da Igreja do Papa Francisco, em vez de a sua formação poder ser aproveitada apenas pelos muito ricos.

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