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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Trump, Obama e a “pós-verdade”

11 ago, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Ao manter fantasia de que a eleição presidencial lhe foi “roubada”, Trump pretende mobilizar os seus apoiantes para as eleições primárias, já em curso, e para a sua própria reeleição em 2024. As “grandes mentiras” começaram com a campanha para a reeleição presidencial de Obama, em 2011. Durante cinco anos, Trump proclamou que Obama tinha nascido no estrangeiro, logo não poderia ser presidente dos EUA.

Dez meses depois da eleição que levou Joe Biden à Casa Branca, Donald Trump mantem a fantasia de que a eleição presidencial lhe foi “roubada”, não obstante dezenas de decisões judiciais nos EUA desmentirem tal afirmação.

E uma boa parte do Partido Republicano proclama esta mentira, enquanto se multiplicam as mais descabeladas “teorias da conspiração” – incluindo ataques irracionais à vacinação contra a covid.

Claro que o ex-Presidente não acredita nesta mentira ridícula, segundo a qual a eleição lhe foi “roubada”, uma mentira típica da era da “pós-verdade”.

O que ele pretende é mobilizar o Partido Republicano em torno dos seus apoiantes, dele Trump, muitos dos quais começam agora a disputar eleições primárias no partido, com vista às eleições intercalares de 2022.

Trump tem colocado nessas primárias os seus mais fanáticos apoiantes. Perdeu no Texas, mas ganhou no Ohio - é cedo para avaliar o domínio de Trump sobre o Partido Republicano, mas tudo indica que se trata de um domínio significativo

O próprio Trump dá sinais de que irá candidatar-se às eleições presidenciais de 2024, tendo já recolhido uma expressiva quantia para essa campanha.

Negar que Biden tenha sido justamente eleito em 2020 visa também tirar legitimidade à atual presidência.

Mas, no limite, uma tal atitude – só reconhecer um resultado eleitoral quando se ganha – retira qualquer sentido à democracia representativa. Por outras palavras, Trump é uma muito séria ameaça à democracia americana.

Mas a utilização por Trump de falsidades como arma política não começou agora. Nem começou, como por vezes se diz, com a célebre afirmação de Trump de que a cerimónia inaugural da sua presidência tinha sido a mais concorrida de sempre (o que foi imediatamente desmentido por vários canais de televisão, que mostraram imagens).

As “grandes mentiras” começaram com a campanha para a reeleição presidencial de Obama, em 2011.

Durante cinco anos Trump empenhou-se numa furiosa campanha alegando que Obama não havia nascido em solo dos EUA, logo não poderia ser legalmente Presidente.

Obama mostrou o certificado do seu nascimento em Honolulu, no Havai, filho de pai queniano (ausente) e mãe branca.

Mas Trump tardou em reconhecer a verdade, porque lhe convinha liderar o desconforto sentido por muitos brancos face a um primeiro presidente negro – ou mulato – na Casa Branca.

A exploração de sentimentos racistas faz parte, como é óbvio, do arsenal político de Trump. Daí o seu apoio mais ou menos explícito aos “supremacistas brancos”, bem presentes no assalto ao Capitólio, em 6 de janeiro passado.

Como Presidente, Trump procurou fazer o contrário do que Obama havia feito. E nessa linha continua Trump. É triste ver um partido com a tradição do Partido Republicano – Lincoln, que venceu a guerra civil contra os esclavagistas do Sul, era republicano – submeter-se agora docilmente às fantasias mentirosas e racistas de Trump.

PS - Notícias vindas de Washington dão conta da aprovação, no Senado, de uma “bazuca” destinada a modernizar as infraestruturas do país. Ora esta “bazuca” económica e social teve o voto favorável de 19 senadores republicanos, contrariando Trump, numa votação bipartidária, de 69 votos a favor e 30 contra. Trump ameaçara retirar apoio a qualquer republicano que “fosse louco bastante para votar este programa”. Mas dezanove senadores republicanos não se intimidaram e votaram mesmo, juntando-se aos senadores democráticos. Sinal de que a influência de Trump no Partido Republicano não é afinal tão forte como se receava. Uma boa notícia.

Comentários
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  • maria tiana
    12 ago, 2021 Lisboa 15:20
    A grande mentira EUA são os Democratas.... Uma democracia demagoga construída à custa da destruição de muitos Países.... Trump o que era por fora era por dentro.... "Obamas e Bidens" com caras de anjinhos e matreiros por dentro... As libertinagens concedidas pelos Democratas só escravizam...
  • Ivo Pestana
    11 ago, 2021 Funchal 20:09
    O populismo mata a democracia. Os americanos adoram as fantasias, por isso são fortes na indústria cinematográfica. Só a cultura dum povo, pode safá-lo destes estratégas manhosos.