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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A fadiga pandémica

21 jul, 2021 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


No combate à Covid-19 precisamos de medidas racionais, sensatas – e constitucionais. Será que se assustam as pessoas para com isso obter benefícios eleitorais? Conviria desmentir tal suspeita. Tendo em conta, ainda, a “fadiga pandémica”.

O fim das medidas restritivas contra a pandemia no Reino Unido suscitou expectativas de um regresso de turistas britânicos a Portugal. Para já, essas expectativas saíram frustradas.

Os hotéis algarvios queixam-se de que os ingleses não deram sinais de voltarem, em parte por causa das restrições que ainda vigoram no Algarve. Pois, se essas restrições estarão a desviar turistas nacionais para Espanha, país que nestes dias registou um considerável afluxo de turistas britânicos.

Lidar com a pandemia não é fácil, sobretudo porque o vírus é imprevisível. E a política de Boris Johnson nesta matéria não está isenta de viragens oportunistas.

O “mayor” (presidente da câmara) de Londres, por exemplo, assim como a Escócia e o País de Gales, mantiveram o uso da máscara nos transportes públicos, considerando que se trata de uma proteção para muitos dos transportados, que não têm possibilidades materiais para se deslocarem de outra forma.

O caso britânico revela que a defesa contra a Covid-19 não é uma questão de tudo ou nada, exigindo medidas racionais, sensatas – e constitucionais. Ora racionalidade e sensatez parecem escassear entre nós.

Temos uma “matriz” de risco que ignora a vacinação, o melhor instrumento de combate à pandemia. O que é simplesmente absurdo. E sérias dúvidas constitucionais pesam sobre várias medidas tomadas pelo Governo nas últimas semanas.

Esta é a primeira vez que aqui comento medidas anti-Covid. Não tenho conhecimentos de saúde pública nem de vírus e pandemias, onde não faltam especialistas (nem todos concordam entre si nem com as medidas governamentais, é certo).

Mas creio que o grau de confusão exige um apelo à calma, para evitar que a “fadiga pandémica” torne tudo mais difícil.A pandemia tomou conta dos meios clássicos de comunicação social, em particular da televisão. Exageram-se os riscos da pandemia, quando os progressos da vacinação (graças ao vice-almirante Gouveia e Melo e à sua equipa) reduziram muito tais riscos – e ignoram-se as doenças e as mortes provocadas por outras causas.

A manchete do “Jornal de Notícias” de terça-feira dizia “43 mil na lista de espera para oftalmologia”. Uma louvável exceção à regra.

As televisões bombardearam-nos com infinitas horas em que se viam doentes, seringas e cotonetes de teste. Assim assustaram a população, entrando num círculo vicioso: as pessoas assustadas não largavam a TV, e as estações de televisão correspondiam com mais Covid-19.

Será que ao Governo convém este círculo vicioso? Há quem defenda que sim, tendo em vista as eleições autárquicas de 26 de setembro. Nessa altura já terá passado o pico da pandemia e o partido do Governo, o PS, poderá surgir como salvador da pátria.

Por alguma razão a ministra da Saúde não afastou a possibilidade de um regresso ao estado de emergência, contrariando a posição do Presidente da República.

Não sei se esta “teoria da conspiração” tem alguma base na realidade. De qualquer forma, seria saudável que o Governo tomasse a seu cargo desmenti-la. Não com palavras, mas com medidas sensatas e razoáveis.

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