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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Os movimentos contra as vacinas

18 dez, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Dantes, desconfiava-se das vacinas por ignorância. Hoje, os anti-vacinas desvalorizam a ciência, porque descreem na razão. Preferem acreditar em mirabolantes teorias da conspiração, como ligar vacinas a autismo. A vacina não defende apenas a pessoa que a toma: contribui para que outros não sejam infetados. Só um individualismo egoísta não o entende.

Desde que a Covid-19 se tornou uma pandemia, passou a esperar-se ansiosamente pelo aparecimento de uma vacina contra este vírus. E, de facto, várias surgiram, felizmente, em tempo “record". Mas uma sondagem da Universidade Católica indica que quase um terço dos portugueses pretende adiar a vacina e 8% rejeitam a tomada da vacina.

Noutros países europeus a rejeição da vacina contra o novo coronavírus é mais elevada. É o caso da Hungria, da Polónia, da Itália, da França, etc. E nos EUA existe uma importante corrente contra as vacinas, esta e outras.

A rejeição de vacinas não é de hoje. No séc. XVIII muitos franceses não queriam tomar vacinas, suscitando a ira de Voltaire. E no séc. XIX, em Inglaterra, houve tumultos quando o governo decidiu tornar obrigatórias algumas vacinas.

É irracional rejeitar um dos maiores sucessos da medicina e da produção farmacêutica nos últimos séculos. As vacinas permitiram erradicar inúmeras doenças, que por vezes causavam a morte – varíola, tosse convulsa, sarampo, tétano, etc. Podemos apontar como principal causa dessa irracionalidade o facto de a grande maioria da população, nos séculos XVIII e XIX, ser inculta ou mesmo analfabeta em muitos países considerados desenvolvidos.

Hoje, porém, não é a ignorância que leva a rejeitar vacinas. É uma certa descrença pós-moderna na ciência, derivada da desvalorização da verdade. Os populistas, como Trump, vivem dessa desvalorização, difundindo mirabolantes teorias da conspiração.

A ciência teve um enorme e justificado prestígio há um século. E algumas vezes iludiu-se quanto à sua capacidade de tudo vir a explicar – o sentido da vida, por exemplo. Mas no nosso tempo já não se sobrevaloriza a razão – pelo contrário, há quem pura e simplesmente não acredite em coisa alguma, ou melhor, acredita nas coisas mais inverosímeis.

A ideia de que as vacinas são perigosas também se liga a um sentimento anticapitalista. Os colossos da indústria farmacêutica apenas querem ganhar dinheiro, diz-se, enganando os consumidores. Claro que nem sempre as grandes empresas foram verdadeiras. Basta pensar no aliciamento de figuras relevantes da medicina que a indústria do tabaco conseguiu captar em meados do século passado, para afirmarem que fumar não fazia mal algum.

Foi uma triste história, mas não se pode generalizar. É que se não houvesse alguma confiança na indústria farmacêutica ela fatalmente iria à falência. E é absurdo descrer da ciência médica e farmacêutica e ao mesmo tempo acolher ideias fantasiosas, como, por exemplo, a de que tomar vacinas provoca autismo.

Em Portugal, ninguém é obrigado a tomar vacinas contra a Covid-19. Hoje, entre nós, apenas as vacinas contra o tétano e a difteria são obrigatórias. Mas, no passado recente, outras eram obrigatórias – sem o que não se teriam erradicado numerosas doenças.

A vacina não defende apenas a pessoa que a toma: contribui também para que outros não sejam infetados. Só um individualismo egoísta não o entende.

Comentários
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  • Paulo
    09 abr, 2023 Açores 15:48
    Até agora continuo sem perceber ou saber na realidade o que é o covid69.... Deixem me adivinhar, sou um sortudo "assintomático? E não, não aceitei o engodo das vacinas! 😂
  • Paulo
    26 fev, 2021 Seixal 17:02
    A Ignorancia prevalece na mentalidade do povo que teima em pensar que fica imune aos virus com as vacinas.Apanham o virus mesmo vacinados e além disso outras doenças com o tempo vao surgir,pois o veneno vai continuar no sangue décadas a matar as celulas más claro,mas as boazinhas que lá deveriam ficar para fortalecer as nossas defesas vai tudo á vida.Façam exercicio fisico e tomem coisas naturais.Os médicos a par com as farmaceuticas só querem impingir medicamentos ás pessoas para "doenças" que nem sao doenças mas sim com a finalidade de manter o povo doente e dependente deste sistema capitalista e ganancioso.
  • António J G Costa
    20 dez, 2020 Cacém 23:42
    O vírus covid é conhecido, peça a peça, como no Lego. O problema são as pessoas: umas "destroem" o vírus em horas, mas 3 por cento, reagem muito mal. Nestas o sistema imunitário não funciona bem, e os pulmões acabam por ser gravemente afetados. 3 por cem, parece pouco, mas num milhão de pessoas "infetadas", significa que 970mil quase que não dão por isso. Mas... 30 mil vão parar em risco de vida aos hospitais. É demasiada gente. As vacinas ao ser aplicadas em larga escala, a tanta gente, vão ter efeitos adversos em alguém. É sempre um risco real. A alternativa é o colapso dos sistemas de saúde.
  • Cidadao
    19 dez, 2020 Lisboa 19:11
    Acho que aqui o problema passa mais pela desconfiança de uma vacina elaborada em tempo recorde, quando pouco se sabe ao certo da doença que ela tenta prevenir, e da hipótese de haver sequelas na saúde a médio / longo prazo, que apenas falar em movimentos anti-vacina
  • É a Ignorância sim,
    18 dez, 2020 Infelizmente. 12:45
    "Se a ciência quiser desempenhar plenamente a sua missão, tal como a arte, os seus feitos devem ser assimilados pela consciência das pessoas de uma forma profunda, e não meramente superficial". Estas são palavras de Einstein, num mundo em que o conhecimento científico e tecnológico são imensos. Imensos, mas apenas do conhecimento de uns poucos, a grande maioria continua alheia. E a "escola" ? Na "escola", infelizmente, ensina-se a "vomitar" e a repetir regras. Apenas.