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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Modernizar o Estado

23 jul, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os trabalhadores do Estado, civis e militares, têm por missão servir-nos, a nós, que vivemos e trabalhamos fora do Estado. Por isso, não lutarmos por uma administração pública mais eficiente, o que implica ser melhor paga, é prejudicarmo-nos a nós próprios.

Pela quinta vez, migrantes vindos do Norte de África desembarcaram no Algarve. Não sei se ali existe, ou não, uma nova rede de traficantes de seres humanos. Mas é manifesto que a guarda da costa algarvia, em terra e no mar, é insuficiente. Até porque se trata de uma fronteira externa da UE.

Este é apenas um pormenor das deficiências do Estado português, em áreas da sua exclusiva responsabilidade. Como é o lento funcionamento da justiça. Ou as baixas remunerações das forças de segurança.

O consultor do Governo, António Costa e Silva, deixou esta semana bem claro que, se a administração pública portuguesa continuar sem se modernizar e simplificar, o seu plano não servirá para muito.

A sociedade portuguesa sempre viveu muito encostada aos poderes públicos. Durante décadas, obter um emprego significava arranjar um posto de trabalho na função pública. Ora a pandemia veio colocar o Estado no centro das atividades económicas. Tornou-se uma necessidade imperiosa, que se espera temporária.

A resposta do Estado à pandemia no plano da saúde até tem sido melhor do que se receava. Mas à custa de muito sacrifício dos profissionais do sector, pelo que se torna indispensável investir mais no Serviço Nacional de Saúde.

As falhas na administração pública sentem-se, sobretudo, ao nível dos quadros qualificados. Muitos destes preferem trabalhar no sector privado, onde os salários são mais altos, e abandonam a função pública. Claro que é mais popular aumentar os vencimentos dos funcionários que ganham menos, mas nem sempre essa é a orientação certa.

Entre nós há uma vaga de críticas aos funcionários públicos, por terem o seu emprego garantido (na maior parte dos casos) e não terem sofrido com a austeridade tanto como a generalidade dos trabalhadores privados.

Quem assim pensa ignora que os funcionários públicos e em geral os trabalhadores do Estado, civis e militares, têm por missão servir-nos, a nós, que vivemos e trabalhamos fora do Estado. Por isso, não lutarmos por uma administração pública mais eficiente, o que em geral implica ser melhor paga, é prejudicarmo-nos a nós próprios.

Comentários
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  • Func Pub
    23 jul, 2020 Por cá 16:02
    E já agora, essa de os trabalhadores do privado terem suportado o choque principal da crise, digo-lhe só que nos tempos da ditadura PSD-CDS-Cavaco Silva-Troika, onde o ódio ideológico se sobrepôs a tudo o que era Público e a Função Pública foi perseguida como nunca, houve cortes de salários, aumentos de impostos, aumento de contribuições, aumento de horas de trabalho, impostos sobre impostos, despedimentos de todos os que não eram do Quadro, Roubo de subsídios de Natal e férias - "subsídios" uma ova, são parte do salário, que em vez de ser pago todos os meses é pago de uma vez. É salário, chamam-lhe subsidio mas é salário - roubo de pensões para as quais as pessoas descontaram, tudo no Público. A onda de despedimentos e falências no Privado, deve-se mais à classe média onde se integra a Função Pública, ter deixado de comprar por causa dos cortes do Passos, que outra coisa. Nem o governo podia ter diminuído salários ou despedido pessoas do privado. Dizer que os privados é que sofreram, como se a Função Pública tivesse dado um passeio, é desonestidade intelectual, no mínimo.
  • Func Pub
    23 jul, 2020 Por Cá 09:44
    Vários erros no artigo: "os funcionários públicos têm o emprego garantido". Falso! Fale assim da Função pública de há 20 anos ou mais. Agora quem entra tem um contrato de trabalho por tempo indeterminado o que significa que pode ser despedido - o "vínculo" acabou na maior parte da F.P. Depois todos sabemos o que são as "reestruturações à portuguesa": despedimentos, cortes, retirada de direitos e colocar um, a fazer o trabalho de dois, pelo mesmo salário miserável. A F.P. são os médicos, os Enfermeiros, os auxiliares do SNS, são os professores da Escola Pública, são os Juízes, oficiais de Justiça dos Tribunais. Ou seja, são quadros técnicos especializados, de licenciatura para cima. Despedem-nos para os substituir por quem? Dar tudo ao Privado, obviamente subvencionado pelo Estado - aí é "privado" em quê? - nas negociatas do costume em que os amigos são privilegiados e os outros "cheiram"? E com a miséria que o Estado oferece como salário e já sem o tal "vínculo", acha que quem pode recusar, não o faz, principalmente quando tem qualificações e não se importa de trabalhar fora do País onde lhes dão condições que aqui só em sonhos?