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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Os “sem-abrigo”, drama europeu

03 jan, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O dramático problema dos “sem-abrigo” não acontece apenas em Portugal: ele agravou-se em vários países europeus bem mais ricos. Mas há uma feliz exceção: a Finlândia.

Em 2018 haveria em Portugal cerca de 3 400 pessoas a viveram na rua ou em alojamentos não pagos pelos próprios meios. A informação foi dada em entrevista à Renascença e ao “Público” por Henrique Joaquim, primeiro gestor da Estratégia Nacional de Integração dos Sem-abrigo. Este organismo depende da ministra do Trabalho e pretende coordenar as boas vontades que felizmente entre nós existem. Só que “a boa vontade, quando não é organizada, tem efeito perverso” – nas palavras de H. Joaquim, que foi oito anos responsável pela Comunidade Vida e Paz e por isso sabe do que fala.

Henrique Joaquim reconhece a importância do empenhamento do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nesta questão. E lembra que ele contribuiu para uma estratégia nacional de eliminação do fenómeno dos sem-abrigo, “envolvendo associações, autarquias e Governo”. Além de que o Presidente Marcelo fala “diretamente com as pessoas que estão na rua”, o que é psicologicamente relevante.

Poder-se-ia pensar que este problema dos “sem-abrigo” acontece sobretudo em Portugal, um país que não é rico. Mas não é assim. Como se lê num recente artigo do semanário “The Economist”, nos últimos anos o número dos “sem-abrigo” aumentou muito em países europeus mais prósperos do que o nosso.

Por exemplo, os “sem-abrigo” terão duplicado em França e na Holanda. Em Espanha aumentaram 21% entre 2014 e 2016. E na Alemanha terão chegado em 2018 ao número “record” de 678 mil, na sua maioria imigrantes. Esta evolução negativa deve muito à generalizada subida dos preços da habitação.

Há uma exceção feliz: a Finlândia. O governo finlandês deu prioridade precisamente à habitação, criando para os “sem-abrigo” rendas baixas, apoiadas financeiramente pelo Estado, bem como contratou largas dezenas de assistentes sociais especificamente para apoiarem os “sem-abrigo”. Estes, na Finlândia, têm dormido em instalações mais ou menos improvisadas, pois se dormissem na rua no inverno provavelmente morreriam de frio.

O facto é que o número de “sem-abrigo” de longo prazo diminuiu 21% na última década na Finlândia. O caso finlandês mostra que o dramático problema dos “sem-abrigo” não é insolúvel. Mesmo em Portugal.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

Comentários
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  • Desabafo Assim
    03 jan, 2020 15:20
    O homem só por si nada vale, quando se juntam três passa a ter significado, quando esses grupos de três formam um povo, interferem com o seu mundo pois o entendimento humano é limitado mas uma certeza é que o acaso não existe. Não editar por favor pois pode ser imperfeito aos vossos olhos, obrigado.