06 out, 2016
Surpreendeu-me a designação, ontem, de António Guterres para Secretário-Geral da ONU, designação que hoje deverá ser formalizada pela Assembleia Geral. Talvez pela descrença nos políticos, que também me afecta, a entrada na corrida, à última hora, da búlgara Kristalina Georgieva pareceu-me sinal de que a escolha do próximo Secretário-Geral já estava “cozinhada” pelos EUA e pela Rússia – caso contrário ela não teria avançado. Avançou e foi humilhada, ficando atrás até da outra candidata búlgara, Irina Bokova, a quem o governo da Bulgária retirou o apoio, a favor de Georgieva, mas que se manteve na corrida.
Também não esperava que o Conselho de Segurança da ONU mantivesse a transparência até ao fim – tudo indicava que a estranha possibilidade de um candidato surgir quase no fim, desvalorizando o que antes se passara, fosse aproveitada para escolher Georgieva. Enganei-me e ainda bem, pois essa “golpada” desacreditaria a ONU.
Merkel sai derrotada pela vitória de Guterres, o que a enfraquecerá ainda mais na Alemanha. É pena, mas deveria ter sido mais prudente, não apoiando Georgieva.
Guterres poderá contribuir para a necessária reforma da ONU. Mas há que ser realista: a sua acção será limitada pela Rússia e pelos EUA, sobretudo se Trump chegar à Casa Branca. Seja como for, é uma excelente notícia para Portugal, para a nossa imagem no mundo e para a nossa auto estima.