08 jan, 2025 • Fátima Casanova
No Explicador Renascença desta quarta-feira analisa-se o Estado da Educação, um relatório que faz o retrato do ensino e visa o que corre mal, mas também aspetos positivos.
A Renascença teve acesso ao relatório feito pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Há um dado que se destaca e que tem que ver com o aumento dos chumbos na escolaridade obrigatória. O que diz o relatório?
A taxa de retenção tem estado a subir desde o ano letivo da pandemia 2019/2020, em que se atingiram mínimos históricos em todos os ciclos de ensino. E regista um especial crescimento no 3.º ciclo do ensino básico, portanto, entre o 7.º e o 9.º ano.
Esta é uma situação para a qual alerta o Conselho Nacional de Educação. Este órgão consultivo do respetivo Ministério sublinha que os chumbos no 3.º ciclo estão a aumentar há 3 anos letivos consecutivos. Nesse período, a taxa duplicou passando de 3% para 6,2%.
E quais são as explicações para essa situação?
As explicações que foram dadas à Renascença pelo presidente do CNE, Domingos Fernandes, têm que ver com a pandemia. Isto porque, segundo explica, estes são alunos que passaram a ter aulas à distância podem ter enfrentado várias dificuldades: em casa podiam não ter condições, não ter computadores. Havia casos de pais que iam às escolas recolher os exercícios.
Portanto, esta pode ser uma explicação, mas há outras, nomeadamente o aumento de alunos imigrantes e as dificuldades que têm no português.
E não há forma de ajudar esses alunos em especial a ultrapassarem os problemas com a língua portuguesa?
Esse é um problema que o Conselho Nacional de Educação identifica, porque a disciplina de Português Língua Não Materna não chega a todos os alunos. Dos cerca de 142 mil alunos estrangeiros, só perto de 14 mil tiveram acesso à disciplina.
Perante estes dados, o presidente do CNE pergunta o que aconteceu com os outros alunos: "não tiveram acesso porquê? Não precisavam ou a oferta do Português Língua Não Materna não foi suficiente?". Domingos Fernandes lamenta não haver respostas para estas perguntas para se poderem decidir políticas.
Ao mesmo tempo, alerta para a necessidade de se olhar para o ensino dos alunos dos 6 aos 12 anos, sublinhando que estes alunos estão a ter problemas muito sérios ao nível da escrita, da leitura e da matemática.
E quanto ao ensino profissional? Ao longo dos anos tem-se falado na necessidade de apostar também neste tipo de ensino, já são mais alunos?
Não, na verdade continua a diminuir o número de alunos que se inscreve nesta via de ensino. No espaço de uma década, desceu dos 162 mil para cerca de 134 mil alunos e, nesse mesmo período, os cursos cientifico-humanísticos ganharam mais alunos.
Mas é importante destacar um dado: é que está a diminuir a diferença salarial entre os jovens com um curso profissional e os licenciados, dependendo da área, claro. Mas pode ser um alerta importante para quem se prepara para ingressar no ensino superior.
E sobre os professores, o que diz o relatório do Estado da Educação?
Faz um elogio. Sublinha que o corpo docente é o mais qualificado de sempre, mas também mostra a realidade da falta de professores, porque é extremamente difícil repor os professores que vão saindo do sistema e este problema também está a chegar ao ensino superior.
É o retrato do Estado da Educação em Portugal. Muito mais há para ler nas mais de 260 páginas do relatório