11 set, 2024 • Anabela Góis
Para já, tudo que indica não. O plano de reestruturação que a Volkswagen anunciou, e que ainda terá de ser negociado com os trabalhadores, só prevê medidas de redução de custos na Alemanha. De momento, não se fala em alterações nas unidades de produção nos restantes países.
O coordenador da comissão de trabalhadores da Autoeuropa tem estado em contacto com os colegas da Alemanha. Rogério Nogueira está naturalmente preocupado com a situação, mas diz que não tem qualquer indicação de que a reestruturação possa afetar a fábrica portuguesa - onde, aliás, o grupo alemão tem estado a investir para se adaptar ao mercado dos carros elétricos.
Sim, tem cerca de 4800 trabalhadores. Dali saem mais de 900 carros por dia, e da Autoeuropa dependem também inúmeras empresas que fornecem componentes. Mais de metade dos fornecedores de peças da Autoeuropa são portugueses e, portanto, também essas empresas dependem da saúde da Autoeuropa.
É o problema da competitividade, que está a deixar a indústria automóvel europeia para trás face aos novos concorrentes que entraram no mercado, como a Tesla e os carros elétricos chineses, que são vendidos a preços mais baixos.
A queda das vendas da Volkswagen, e dos lucros e o comportamento do mercado, obrigaram a empresa a ponderar uma série de cenários difíceis. Cenários estes que terão sido agravados também pelo escândalo “dieselgate”, de 2015, relacionado com a manipulação das emissões de gases em determinados motores a diesel - um caso que pôs em xeque a imagem de fiabilidade da fabricante europeia.
Foi anunciada uma grande reestruturação para concluir num prazo de um a dois anos, o que pode implicar despedimentos em seis das 10 fábricas de montagem e de peças na Alemanha, já a partir de junho de 2025.
A Volkswagen já anulou, entretanto, uma série de acordos laborais, incluindo a garantia de proteção contra despedimentos que deveria garantir os empregos até 2029.
As perspetivas nesta altura são as piores. A empresa emprega cerca de 300.000 pessoas na Alemanha, e já disse que, tendo em conta a redução das vendas, tem pelo menos duas fábricas a mais.
Não vai. A Volkswagen vai ter de preparar-se para forte resistência por parte da comissão de trabalhadores na Alemanha, dos funcionários das fábricas e dos sindicatos, e do próprio estado alemão da Baixa Saxónia - que tem uma participação de 20% na empresa e está muitas vezes ao lado dos órgãos sindicais.
De resto, os sindicatos já falam em custos adicionais para a empresa, na ordem dos mil milhões de euros.