07 jul, 2023 • Pedro Mesquita
O Governo concedeu tolerância de ponto nos dias 3 e 4 de agosto, em que o Papa se vai juntar aos jovens na Jornada Mundial da Juventude.
A tolerância é dirigida apenas aos funcionários públicos que trabalhem no concelho de Lisboa.
Com a excepção dos serviços públicos e organismos que, por razões de interesse público, devam manter-se em funcionamento, como é o caso da PSP ou do INEM.
O Estado só é patrão dos funcionários públicos, e como nos explicou o juiz Paulo Rocha e Silva, que já exerceu funções na área do Direito do Trabalho, o Estado não teria competência para conceder tolerância de ponto aos trabalhadores do sector privado.
O que o governo poderia ter feito, e não fez, pelo menos neste anuncio, era recomendar ao sector privado que seguisse o exemplo do Estado e também concedesse tolerância de ponto aos seus trabalhadores.
Mas esta seria uma mera sugestão que poderia ser seguida, ou não, em cada empresa.
É isso mesmo. Aliás, importa sublinhar que essa tolerância de ponto só abrange mesmo os funcionários públicos que trabalham no Concelho de Lisboa.
A medida não abrange sequer os funcionários públicos de Loures, município que divide com Lisboa a realização da JMJ.
Ora bem, o que diz o despacho do primeiro-ministro é que o objetivo desta tolerância de ponto nos dias 3 e 4 de agosto é mitigar o impacto, na capital, de um "fluxo anormalmente elevado de pessoas" naqueles dias.
Explica, também, que a medida também tem em consideração "as indispensáveis contingências de segurança e o seu inegável impacto na mobilidade dos cidadãos e no tráfego rodoviário.
Desta forma, só o concelho de Lisboa é abrangido porque é lá que se concentra a maioria dos serviços de mobilidade e segurança.
Ou seja, a intenção do governo não foi permitir aos cidadãos que vivem em Portugal assistir presencialmente à Jornada Mundial da Juventude mas salvaguardar estas duas alíneas que considera essenciais: segurança e mobilidade.
Concedeu, mas só no dia 12, porque o 13 de Maio calhou a um sábado.
E algo ainda mais curioso é que em 2017 o governo concedeu tolerância de ponto aos funcionários públicos de todo o país e não apenas de Fátima.
Na altura, ao contrário do que acontece agora, o texto que acompanhava o despacho de António Costa explicava que era estabelecida "a concessão de tolerância de ponto aos funcionários públicos dada a importância de que revestia a visita a Portugal do Papa Francisco".
O despacho mencionava "o interesse de grande número de portuguesas poderem estar presentes nas celebrações do centenário das aparições de Fátima", para além das "contingências de segurança indispensáveis a um evento com inegável impacto na mobilidade dos cidadãos e no tráfego rodoviário, em todo o território".
A decisão de 2017 sublinhava - e passo a citar - a "tradição já existente, sedimentada na concessão de tolerância de ponto aquando das visitas a Portugal" do Papa João Paulo II e Papa Bento XVI.
Ora bem, era esta a justificação de António Costa em 2017. Mas agora, em 2023, pelos vistos o primeiro-ministro já não atribui tanta importância ao "interesse de grande número de portuguesas poderem estar presentes" na Jornada Mundial da Juventude, apesar de ser um acontecimento único - e Mundial - que poderá juntar mais de um milhão de pessoas.
Já. E quando o Papa Paulo VI visitou Portugal em 1967, no 50º aniversário das aparições, não existiu uma mera tolerância de ponto, no dia 13 de maio daquele ano foi decretado feriado nacional.
E o mesmo aconteceu muito depois do 25 de abril, em 1982, quando João Paulo II fez a sua primeira visita a Portugal.