11 mai, 2023 • Pedro Mesquita , Cristina Nascimento
A chave do Totoloto desta quarta-feira ficou para a história de quatro apostadores que ganharam mais de três milhões de euros com uma sequência quase perfeita.
A sequência quase perfeita, "saltando" apenas o número cinco, tem a mesma probabilidade de sair como qualquer outra e o segundo prémio foi para 12 apostadores, que vão receber um valor de cerca de dois mil euros.
É uma sequência como qualquer outra. Como nos explica o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, José Carlos Santos, é tão provável sair 1, 2, 3, 4, 6 + 7 como se tivesse sido 2, 15, 17, 22, 32 e o número da sorte o 44.
A probabilidade de sair era exatamente a mesma. Claro que para todos nós há números, ou sequências de números, que têm um significado mais especial, seja a data de nascimento, de casamento, a idade dos filhos, enfim. É quase o mesmo, para algumas pessoas, que escolher uma password. A verdade é que a chave vencedora do Totoloto, desta vez, foi quase perfeita - só faltou o 5.
Muito, muito pequena mesmo. Já houve quem fizesse essas contas e chegou à conclusão de que a probabilidade de acertar na chave do Totoloto é de 1 em 24.789.492. É mesmo muito pequena.
Claro, isso baralha ainda mais as contas por ser um número à parte. Nem me atrevo a fazer esse cálculo. Se o grau de probabilidade de acertar na chave certa, como vimos, é mesmo muito pequeno, não deixa de ser surpreendente que tenham acertado quatro pessoas na chave certa com números e suplementar.
Mais uma vez perguntamos a um especialista. O que nos explicou o psicólogo Tiago Pereira, membro da Ordem dos Psicólogos, é que se trata de um "viés cognitivo". Bem sei que a expressão técnica é complicada mas vou tentar descodificar: Há tendência para, em determinadas alturas, tomarmos decisões ou assumirmos um comportamento irracional, que não se baseia em factos ou numa lógica.
Depende do tema. Neste caso, estamos a falar de um assunto ligeiro: A chave premiada de um jogo de sorte. O psicólogo Tiago Pereira alerta, contudo, que este tipo de vieses cognitivos são os mesmos que, durante a pandemia, deram origem à formulação de teorias da conspiração sobre a origem do vírus e que podem condicionar, por exemplo, a decisão de ser, ou não, vacinado.
Não, é uma limitação que todos temos, enquanto seres humanos, no processamento de informação.
O que nos distingue é, depois, o passo seguinte: como é que procuramos mais informação sobre um determinado tema.
O psicólogo Tiago Pereira explica que há pessoas que procuram informação racional, e lógicas, pessoas que olham para este tipo de factos como uma curiosidade e depois há pessoas mais suscetíveis.
Tiago Pereira avisa que nas redes sociais é relativamente fácil encontrarmos testemunhos que apenas servem para "carimbar" as dúvidas que essas pessoas já tinham. Ou seja, haverá outras pessoas a acreditar em teorias da conspiração.
Regressando à chave certeira do Totoloto, encontrámos comentários nas redes sociais a lembrar, por exemplo, que já uma vez saiu o número 0, quando o 0 não é opção. Claro que este tipo de casos servem apenas para reforçar as dúvidas, as tais teorias da conspiração que, muitas vezes, nem são mal intencionadas.